Almirante Tamandaré

Sonho de menino

Félix Felipe França de Souza, 10 anos, é um menino muito inteligente. Apesar da paralisia cerebral – decorrente de problemas no seu nascimento – a cognição do garoto não foi muito afetada e ele “conversa” normalmente. Conta aos pais como foi seu dia na escola, pede as coisas que quer, canta as músicas que aprendeu na igreja e até faz orações. Mas os médicos e os pais de Félix acham que ele pode mais e por isso precisam de ajuda para conseguir uma nova cadeira de rodas e sessões extra de fisioterapia.

O pedreiro Márcio José de Souza, 36 anos, pai de Félix, conta que Inês, sua esposa, não recebeu a assistência que precisava durante o parto. Depois de 12 horas de trabalho expulsivo – quando a cabeça da criança já está aparecendo – o bebê foi tirado com fórceps, o que machucou a criança. “Eu pedia para fazerem a cesárea nela, mas o médico queria me cobrar R$ 2 mil para isto. E depois que ele nasceu, me falaram que ele ficaria com sequelas. Mas não pensamos que era assim tão grave, que o menino não ia falar, nem andar”, disse Márcio, que tentou processar o obstetra, mas disse que a maternidade sequer deixou eles saberem o nome do médico que abandonou Inês em trabalho de parto com uma parteira, sem assistência, e só reapareceu na hora de tirar a criança com fórceps.

Grave

Márcio conta que, com um ano, Félix quase não se mexia e dormia o tempo todo. Foi aí que começaram a perceber que a paralisia era grave. O garoto cresceu, porém só começou a falar, quase incompreensível, há um ano, graças ao tratamento com fonoaudióloga. Um ano depois ele fala um pouco melhor, porém é difícil compreendê-lo. Mas os médicos acham que o menino pode muito mais e existe a possibilidade até dele andar. Para isto, ele precisa de muito mais fisioterapia para conseguir reabilitar sua coordenação motora e alongar tendões. A recomendação médica é de três vezes ao dia.

“Ele faz várias terapias lá na APR (Associação Paranaense de Reabilitação). Mas não faz a quantia de fisioterapia que os médicos mandam. Ele mesmo conta pra nós que fica só uns cinco ou 10 minutos e já tiram ele. Eu fui questionar lá na APR e mostrar a recomendação médica e eles me dizem que o tempo para fisioterapia é curto mesmo”, lamenta ela. Félix já recebeu três aplicações de botox. Mas o medicamento não tem o mesmo efeito se não houver fisioterapia intensa junto.

Foto: Felipe Rosa.
Foto: Felipe Rosa.

O apelo de Inês é para conseguir algum profissional ou clínica que dê a Félix essa fisioterapia extra, no contraturno da escola (que é a tarde). Ela e Márcio não possuem condições financeiras de pagar as sessões. Márcio acabou de perder o emprego e a ajuda que ganha do governo vai, em boa parte, com medicamentos e fraldas para o filho. Faz um ano que Inês se cadastrou na prefeitura de Almirante Tamandaré, onde moram, para conseguir as fraldas. No entanto, as que a prefeitura fornece não servem no garoto e os pais têm precisado comprar fraldas geriátricas na farmácia.

Uma cadeira maior, urgente!

Enquanto o sonho de andar não se realiza, Félix precisa de uma nova cadeira de rodas, pois a que usa já está pequena. Essa foi a receita médica dada pelo ortopedista que atende a criança no hospital Pequeno Príncipe, no mês de abril, com urgência. Inês diz que ele já ganhou duas da APR, mas foi informada pela instituição que não há como doar uma terceira ao menino. E Inês e Márcio não podem comprar. “Eles dizem que tem que ser via posto de saúde.

Eu já levei lá no posto, para encaminhar para um ortopedista. Mas poxa! Ele já tem a solicitação feita pelo ortopedista do Pequeno Príncipe. Tenho que levar ainda no ortopedista do postinho pra conseguir?”, reclama a mãe.
A APR ainda ajudou a adaptar a cadeira – que machucava as pernas – colocando uma almofada e espumas, para compensar a altura do apoio de pé. Mas, além de apertada, a regulagem dos pés ainda não é adequada e eles ficam pendurados. O que ele precisa é de uma cadeira adequada para o tamanho dele, com apoio regulável para os pés e também para a cabeça, além dos cintos de segurança.

Muita luta!

 

Félix precisa de uma cadeira nova. Foto: Felipe Rosa.
Félix precisa de uma cadeira nova. Foto: Felipe Rosa.

Félix também tem a recomendação médica de usar uma tala nos pés. No entanto, a “botinha” chega a esfolar a parte de cima dos pés e faz um tempo o garoto não está conseguindo usá-la.

Quando chove, ou o garoto falta aula, ou a mãe tem que leva-lo na chuva até uma rua próxima, para o ônibus da APR buscá-lo. Isto porque as ruas ao redor da casa da família, no bairro Parque São Jorge, são de barro, numa região de muitas subidas e descidas. “O ônibus não consegue chegar até aqui. Tenho que levar ele na cadeira de rodas na chuva, no barro, até o asfalto”, diz a mãe.

Apesar de tantas dificuldades, Félix é um garoto feliz, extremamente simpático e carinhoso. Sorri a todo momento, manda beijos, pega nas mãos de quem conversa com ele, canta, conversa e comemora exaltado quando as pessoas conseguem entender o que ele diz. Ficou super contente de ter a equipe da Tribuna dentro de sua casa e de entrar no carro da reportagem, para conhecer como é.

O que diz a APR?

Edson Camargo, presidente da APR, explicou que Félix, assim como outros pacientes, não são mais de responsabilidade da Associação. Em 2006, a APR fez um convênio com o governo estadual, para ser construído um centro hospitalar de reabilitação, do qual a APR ficou gestora por oito anos, funcionando com repasses feitos pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Todos os pacientes da APR eram atendidos no hospital. No entanto, no mês de março, o convênio chegou ao fim, não foi renovado e quem assumiu a gestão do hospital foi a Fundação Estatal de Atenção em Saúde do Paraná (Funeas). Sendo assim, também assumiu todos os pacientes atendidos lá. Além do convênio encerrado, A APR estava desde novembro sem receber recursos da SMS. Sem salários, 50 terapeutas que trabalhavam lá pediram demissão. Isto, diz Edson, reduziu a capacidade de atendimento.

Informado pela reportagem das necessidades de Félix, Edson pediu que a Tribuna conversasse com a diretoria da Funeas sobre o assunto, pois considera extremamente séria a orientação médica e a possibilidade de reabilitação do menino. A reportagem procurou a Funeas, mas não conseguiu contato com a diretoria. Os telefones tocam até cair a ligação. Quanto a cadeira de rodas, ele explicou que, pela falta dos repasses, desde novembro, a APR não tem mais condições de fornecê-las e a família deve procurar a ouvidoria da SMS.

Quer ajudar?

Entre em contato com a Inês pelo telefone 99737-7247. A família mora na Rua San Martin, 198 – Parque São Jorge – Almirante Tamandaré.

Sobre o autor

Giselle Ulbrich

(41) 9683-9504