Água Verde

Alegria múltipla

Escrito por Maria Luiza Piccoli

Quadrigêmeas de Curitiba já viraram celebridades. Pais aguardam a última sair da UTI Neonatal

Se você tem filhos, conhece bem a emoção de ouvir pela primeira vez um coraçãozinho batendo, ainda na barriga. Imagine a sensação de ouvir, na primeira ultrassonografia, não um, mas quatro batimentos diferentes! É o que viveu o jovem casal de Curitiba, Nikolle Ronchi, 32 e Magnus Demaman, 43, no primeiro exame médico após a confirmação da gravidez, em julho do ano passado. Depois do susto e da gestação repleta de incertezas, os pais não escondem a alegria ao lado das pequenas Helena, Luiza, Clara e Giovana que chegaram ao mundo no mês passado e aguardam alta médica para ir pra casa.

Tudo começou em maio de 2016, quando Nikolle e Magnus decidiram que era hora de ter filhos. Juntos há oito anos, a engenheira de alimentos e o técnico de natação escolheram aguardar a sonhada estabilidade financeira para pensar na paternidade. “Quando estávamos melhor estabelecidos, já com apartamento montado, concluímos que era o momento ideal. Paramos de nos proteger e começamos a tentar engravidar, mas depois de um ano ainda não tínhamos conseguido”, conta Nikolle.

Após uma visita ao ginecologista, em maio do ano passado, uma má notícia abalou o casal: portadora da Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), Nikolle teria mais dificuldades para ter filhos do que a maioria das mulheres. Por recomendação do médico, ela começou um tratamento para estimular ovulação e, sem muitas esperanças, a engenheira não desconfiou que os primeiros sintomas que sentiu, na verdade, não eram de tensão pré menstrual mas sim, de gravidez. “Fazia só um mês que eu tinha começado o tratamento. Nunca pensei que aquelas cólicas seriam os primeiros sintomas da gestação”, lembra.

Susto e alegria

Confirmada por meio de um exame de farmácia, a notícia, a princípio, foi mantida em segredo pelo casal até a ultrassonografia. Foi durante o primeiro exame que a surpresa finalmente veio em dose quádrupla. “Percebi que o médico que fazia o exame tinha percebido algo diferente. Com bastante calma ele me mostrou que não tinha apenas um, mas quatro sacos gestacionais no meu útero. Alguns minutos depois, foi confirmado que todos eles estavam ‘ocupados’, ou seja, tinha de fato quatro bebês diferentes na minha barriga. Foi assustador no primeiro momento”, diz.

Conhecido como “gravidez múltipla”, o quadro gestacional pode acontecer de várias formas. De acordo com o presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Paraná e professor de ginecologia e obstetrícia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Positivo (UP) e Faculdade Evangélica do Paraná (Fepar), Jan Pawel Pashnicki, o fenômeno decorre de eventos de múltipla ovulação nos quais o organismo feminino acaba liberando não um, mas vários óvulos em um mesmo ciclo menstrual.

“É mais difícil isso acontecer de forma natural sem nenhuma técnica de fertilização, mas existe a possibilidade. Via de regra é mais comum vermos casos de ovulação múltipla quando a paciente faz algum tratamento para induzir o processo, Como o uso de medicamentos, por exemplo”, explica.

Raridade

Em 18 de janeiro, Helena, Luiza, Giovana e Clara chegaram ao mundo. A cesárea aconteceu na Materinidade Santa Brígida. Foto: Felipe Rosa
Em 18 de janeiro, Helena, Luiza, Giovana e Clara chegaram ao mundo. A cesárea aconteceu na Materinidade Santa Brígida. Foto: Felipe Rosa

Considerada rara quando comparada à gravidez simples na qual apenas um embrião se desenvolve no óvulo – a chamada gestação gemelar pode acontecer de duas maneiras: quando um mesmo embrião se divide em dois, ou quando dois óvulos são fecundados – cada um por um espermatozoide. Nas hipóteses em que o embrião se duplica, os gêmeos são chamados “univitelinos” e apresentam características físicas idênticas. Já quando a fecundação acontece em óvulos diferentes, são duas gestações. Dois bebês completamente diferentes sendo gerados ao mesmo tempo.

Ainda assim, a chance de um casal ser multiplamente premiado ainda é pequena. De acordo com dados publicados do Registro Brasileiro de Gêmeos (RGB), a incidência natural de gravidez múltipla, em média, é de quatro a cada mil gestações. Com o uso de técnicas de reprodução assistida, o número aumenta consideravelmente, dependendo do tipo de procedimento utilizado.

De acordo com o professor de reprodução humana da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e diretor do Embryo Centro de Reprodução Humana, César Augusto Cornel, a possibilidade de engravidar de gêmeos salta para 7% a partir da adoção de métodos artificiais de fertilização. Em casos de estimulação ovular, como o de Nikolle, o especialista explica que a orientação médica é fundamental para alertar os pais sobre os riscos da gravidez múltipla.

“Nesse método específico, também chamado de ‘coito programado’, costuma-se orientar bem o casal quanto às chances de engravidar de múltiplos. É preciso que os pais tenham consciência de que esses métodos estimulam a produção de vários óvulos ao mesmo tempo sem que se tenha controle absoluto sobre eles. Para evitar sustos, é importante ter cuidado”, explica.

Ciente dos riscos durante a gestação das quádruplas, Nikolle afirma ter vivido momentos de medo, uma vez que a chance de parto prematuro era grande. “Eu tinha receio de não dar conta. Minha principal preocupação era que elas nascessem fracas ou muito doentinhas. Tive várias crises de choro ao longo da gravidez”, conta.

Com o acompanhamento médico e todos os cuidados antes do nascimento, os jovens pais acompanhavam ansiosos o desenvolvimento das filhas, até que os riscos de morte fossem totalmente descartados. Ao mesmo tempo, amigos e parentes se mobilizaram em um verdadeiro mutirão para organizar o enxoval das pequenas. “Foram berços, carrinhos, cobertas, brinquedos. Oitenta por cento do enxoval das meninas veio a partir dessa ajuda. Nós ficamos muito felizes e gratos com tanto carinho”, afirma Nikolle.

Grande dia

Nikolle diz que, quando o médico confirmou que eram quatro bebês, ficou assustada. Em seguida, a felicidade foi imensa. Foto: Felipe Rosa
Nikolle diz que, quando o médico confirmou que eram quatro bebês, ficou assustada. Em seguida, a felicidade foi imensa. Foto: Felipe Rosa

Na manhã de 18 de janeiro, Helena, Luiza, Giovana e Clara chegaram ao mundo em menos de 10 minutos. A cesárea aconteceu na Materinidade Santa Brígida, com intervalos de dois minutos entre cada nascimento. Um pouco antes da hora, as pequenas nasceram com 33 semanas e foram diretamente encaminhadas à UTI Neonatal do centro médico para que ganhassem peso. Em pouco tempo, as quádruplas viraram xodó entre os funcionários da maternidade e celebridades locais, recebendo inclusive a visita do prefeito Rafael Greca (PMN) e da primeira dama, Margarita Sansone, no dia 2 de fevereiro.

Agora, perto de completarem um mês e já fora da Unidade de Tratamento Intensivo, Giovana, Helena e Clara aguardam a irmãzinha Luiza que ainda está internada – chegar aos dois quilos para que a família finalmente possa ir pra casa. De acordo com o hospital, ainda não há previsão de alta para a pequena, mas ela passa bem. “Agora é só esperar a Luiza engordar e ‘comprar as espingardas’. Porque essas vão dar trabalho”, brinca Nikolle.

Ajude as quadrigêmeas

De acordo com Nikolle, para que as meninas se desenvolvam e ganhem peso rapidamente um tipo especial de leite foi recomendado pelos pediatras. O valor da lata é R$100. A família pede ajuda a quem puder e sentir a vontade de contribuir. “Elas vão precisar tomar muito leite agora para que fiquem fortes. Como são quatro, será praticamente uma lata por semana pra cada uma. Por isso agradeceremos muito a quem puder ajudar”, finaliza.

Dados Bancários
Nome: Nikolle M Ronchi
Banco: Santander
Agência: 3335
C/c: 01090824-6
CPF: 042.409.729-06

Sobre o autor

Maria Luiza Piccoli

(41) 9683-9504