Hoje um bairro residencial com casas simpáticas e pouco mais de 13 mil habitantes, o Abranches, no norte de Curitiba, já foi um conjunto de chácaras com lavoura de abóbora, milho, feijão e fava. Conhecido por abrigar o Parque das Pedreiras – formado pela Ópera de Arame e pela Pedreira Paulo Leminski – o bairro foi fundado por 64 famílias vindas da Polônia, em 1873. De acordo com os registros da Paróquia Sant’Ana, foi a primeira colônia de imigrantes poloneses do Sul do País.

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A igreja histórica, com cerca de 140 anos, foi erguida em uma parte da propriedade de João Krasinski, que dá nome a uma rua do bairro. “Meu avô paterno doou um pedaço do terreno, e construíram a capela e o colégio”, conta o comerciante José Carlos Krasinski, de 68 anos, citando o Colégio Vicentino São José. Ele nasceu, criou-se e vive até hoje no Abranches, de frente para uma das principais avenidas do bairro. “No meu tempo, ela não chamava Mateus Leme. Era uma estrada com três metros de largura que ia daqui até o Largo da Ordem, e de lá para Rio Branco do Sul e Açungui. Chamava Estrada do Açungui”, recorda.

Futebol

Espaço foi doado para a construção da Paróquia Sant’Ana. Foto: Felipe Rosa

Em sua infância, a agricultura já não era mais rentável. O avô trabalhava também como marceneiro, ferreiro e carroceiro. “Ele levava mercadorias em carreta com mais de 18 cavalos até Guarapuava”, conta José Carlos. Seus tios e seu pai não chegaram a trabalhar na lavoura, e se dedicaram à indústria, ao comércio e ao funcionalismo público. A diversão da meninada era jogar bola em quatro campinhos de futebol da região, que duraram até quando José Carlos tinha uns 15 anos. “Depois viraram loteamento e quadras de moradia.”

O esporte era praticado também na Sociedade Cultural Abranches, sede do Abranches Esporte Clube, “falecido há 40 anos”, segundo ele, que jogou no time. A própria Sociedade, diz, está meio morta há umas duas décadas, recebendo eventos esporadicamente. Outro morador antigo, o estofador aposentado Ari Gonçalves, 71, lembra da época áurea do clube. Seus bailes eram o ponto de paquera e lazer dos jovens. “Mas eu não frequentava muito, porque não dava pra ficar gastando dinheiro, tinha que trabalhar”, diz ele, que também nasceu e viveu a vida toda no Abranches.

Só mato!

Ari: era só mato. Foto: Felipe Rosa
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Filho de descendentes de alemães e italianos, Ari Gonçalves cita as principais famílias polonesas que formaram a colônia: Krainski, Kaminski, Krasinski, Kukanis, Kubis, Dolata. A cultura dos vizinhos era apreciada na tradicional Festa de Sant’Ana, com seus pirogues, cuques e tortas. Quando Ari era menino, o bairro tinha poucas casas, “era praticamente só mato”. Além das residências, do clube, da igreja e do colégio, só havia o Cemitério Paroquial Abranches. Em 1962, comprou um terreno próximo à casa de madeira dos pais, onde hoje reside com a esposa. Acostumado ao local, não se vê morando em outra parte. “A gente se adaptou e não em como sair. Tem que ficar aqui”, diz.

Festa de Sant’Ana

Principal tradição do bairro, a Festa de Sant’Ana é celebrada anualmente nas proximidades do dia da padroeira. Em 2016, em sua 64ª edição, o evento será realizado no dia 31 de julho, com missa, procissão pelo bairro, bênção de automóveis, café da manhã, almoço e bingo, além de bolos gigantes com medalhinhas de Sant’Ana, informa a paroquiana Michele Gubaua. “Estamos oganizando a festa desde o mês passado”, revela.

Mudanças

João: “Aqui é perigoso a qualquer hora do dia” Foto: Felipe Rosa
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Apesar de predominantemente residencial, sem o movimento gerado por serviços e comércio, o Abranches já não oferece a tranquilidade de outros tempos. A crise econômica fez ressurgir uma atividade tradicional em bairros, mas que andava em extinção: os carros com sistema de som que passam anunciando produtos. “Antigamente era muito comum, e agora os carros de vendas voltaram. O pessoal está tendo que se virar. Eles passam vendendo pastel, ovos, queijo e salame colonial…”, conta José Carlos Krasinski.

Outra característica que o Abranches perdeu foi a segurança, lamenta ele. Só nos últimos anos, o comerciante já foi assaltado três vezes, uma delas à mão armada. A queixa é compartilhada pelo aposentado Ari Gonçalves. “Aqui é perigoso a qualquer hora do dia, é muita bandidagem. Antes, minha casa tinha muro baixinho. Hoje, não dá mais.”

Participe!

A partir de hoje, quinzenalmente, a Tribuna vai se juntar à Redação Móvel do Paraná TV e à Rádio 98 FM para uma programação conjunta nos bairros. A primeira ação será no Abranches. A partir das 10h30 desta quinta-feira (9), a reportagem dos Caçadores de Notícias estará junto com o jornalista e apresentador Jasson Goulart, da RPC, e a equipe da rádio na Praça Irmã Tereza, em frente à Paróquia Sant’ana.

Você é nosso convidado para não apenas acompanhar a programação, mas participar, trazendo à nossa equipe sugestões de reportagens, tanto demandas dos moradores e comerciantes como histórias bacanas, personagens de destaque e ainda projetos comunitários e sociais desenvolvidos na região.

Jasson vai exibir um VT com reportagem sobre o bairro, gravar o quadro Desaparecidos, explicar o funcionamento da TV digital e entrevistar ao vivo, durante o Paraná TV, o padre Odair, da Paróquia Sant’ana. Nesta tarde, acontecerá um bingo na igreja para arrecadar dinheiro para a troca do telhado.

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