Que existe boa harmonização entre vinhos doces e sobremesas muitos já sabiam, no entanto, em se tratando somente de chocolate, de gosto forte e complexo, muitos ainda duvidam. Sabedores de que o chocolate, depois de ingerido impregna o paladar, formando uma capa doce e gordurosa sobre o língua e impedindo as sensações posteriores, muitos afirmavam, até pouco tempo, ser quase impossível tal combinação.
Nesse sentido histórico, o único vinho que sobrevivia aos profissionais e ainda sob algumas críticas nessa tentativa de harmonização, era o velho e bom Banyuls, de preferência o tinto ao branco, um estilo de vinho fortificado e doce proveniente de uma denominação de origem controlada localizada nas encostas dos Pirineus franceses, no condado de Roussillon, quase divisa com a Catalunha, na Espanha.
Assim o Banyuls reinou, merecida e solitariamente, por anos, inclusive sendo citado em importantes livros e revistas, como a afamada Bíblia do Vinho, de Karen Macneil. Acontece que os profissionais foram surgindo e se aperfeiçoando cada vez mais na técnica de harmonização, não me refiro somente aos enólogos e sommeliers, mas chefs e profissionais da área de gastronomia também, e os testes dessas variáveis, incluindo vinhos secos, resultou em conclusões surpreendentes, algumas delas memoráveis… outras, questionáveis.
Entretanto, trouxe à tona a possibilidade, a ousadia e o melhor incentivo de todos: Vamos tentar?Por que não?
Em se tratando dos tradicionais, o que me dizem de um vinho do Porto? Por que não? Recomedaria um Tawny, de estilo mais jovem, por ser mais frutado e casar com o chocolate ao leite. Vinho Madeira? Excelente tentativa.
Um Jerez Pedro Ximénez, de varietal homônima, seria interessantíssimo, pois possui uma boa densidade e doçura natural, derivada da exposição das uvas ao sol, é espesso, rico e aveludado, dificilmente seria encoberto pelo sabor forte do chocolate, seja ele o estilo que for.
Um Icewine, o vinho do gelo, é uma boa opção também, contudo arriscaria uma sobremesa apenas com toques de chocolate, já que é um vinho mais delicado, com um nível de acidez maior. Nessa mesma esteira, segue o Vin Santo, outro vinho de estilo leve e adocicado, de origem italiana, assim como os famosos, místicos e caros vinhos de Sauternes, França, e todos os demais colheitas tardias (late harvest ou cosecha tardia), que estão sendo produzidos em grande escala pelo mundo afora e aprimorados a cada dia.
Também é oportuno citar, o prazer que tive de experimentar, acidentalmente em Buenos Aires (achando se tratar de um vinho tinto seco), o fortificado Malamado, elaborado pela família Zuccardi, Argentina. Sem dúvida, um estilo de vinho a ser harmonizado com chocolate puro, daqueles amargos, com o percentual de cacau alto.
Vinho tinto seco é possível? Sim, nesse caso, a idéia é visar um chocolate mais puro possível, onde a taxa de gordura é menor. Outra, é optar por varietal de paladar mais acentuado, estilo mais forte, como um cabernet sauvignon ou um syrah (shiraz), que tenha estagiado em barricas de carvalho, de estilo mais americano que europeu, pelo aroma e sensação de doçura aparente produzido pela madeira sobre o vinho.
Aproveite as dicas e o feriado frio que se aproxima para testá-los, vinho e chocolate… depois, deixe sua impressão aqui.
Bom final de semana e até a próxima coluna!
Cheers!