Gato escaldado: o caso do portão do condomínio

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Chega a impressionar a quantidade de acidentes inusitados que acabam parando no hospital. O pior é saber que a vasta maioria deles poderia facilmente ser evitada, com precaução e algum bom senso.

A história de hoje aconteceu num desses condomínios de sobrados, nos quais sempre tem algum vizinho esperto o suficiente para acionar o portão eletrônico sem sequer olhar para fora de casa. De quebra, acaba colocando em risco as pessoas e veículos que fazem uso da dita cuja passagem.

Do lado de fora, seu Luís chegava do mercadinho abarrotado de sacolas, apertando o controle para que o portão abrisse uma ligeira fresta.

Do lado de dentro a vizinha se despedia do filho, que já estava de mochila nas costas a caminho da escola. Ao acionar o controle remoto sem olhar pela janela, quase causou uma tragédia.

Em segundos, seu Luís foi abalroado e atropelado pelo portão de 200 quilos, tendo seu tórax prensado contra o gradil lateral. Levado ao pronto-socorro pelo SIATE com intensa dor e falta de ar, o resultado seria uma clavícula e duas costelas quebradas com direito à perfuração de um dos pulmões.

Durante o internamento teve algumas complicações, como uma pneumonia de origem hospitalar. Tirando isso, acabou tudo bem. Com 73 anos, seu Luís se recuperou relativamente rápido, retornando para casa em poucos dias. Com o tempo retomou sua rotina e seus afazeres diários, com o cuidado quadruplicado de abrir completamente o portão e – a largos passos – atravessá-lo sempre correndinho.

Pois é, gato escaldado tem medo de água fria. Seu Luís que o diga.

Porque estou aqui?

Olá, meu nome é Carlo.

Sou médico formado pela Universidade Federal do Paraná e escrevo a coluna Sinal Vital, que novamente será publicada nas páginas da Tribuna, trazendo crônicas sobre os bastidores da medicina.

Gosto de atender pacientes. Gosto de estar perto das pessoas. É o meu jeito, a minha utilidade social.

Aprendi que talvez não haja lugar melhor para se conhecer uma sociedade do que um pronto-socorro. Os corredores da emergência podem revelar mais do que a falta de saúde ou a presença de doença. Podem mostrar mais do que nossas perdas e infortúnios. Também está lá o resultado de nossas diferenças, paixões, burrices e – claro – nosso estranho gosto pela violência.

Sinal Vital retrata a rotina de médicos, bombeiros, enfermeiros, policiais e socorristas em textos rápidos que levam informação para a prevenção de acidentes que costumam mudar a história das pessoas.

Para sempre.

Aqui o leitor é convidado a colocar as luvas, realizar suturas e entrar às pressas no centro cirúrgico, na tentativa de compreender uma realidade que pode espantar pela crueldade de nossa natureza, tão humana.

Espero que goste.

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