Descuidados

Essa aconteceu numa dessas madrugadas sem fim, em que o rádio teimoso não para de disparar atendimentos para as equipes de plantão.

Passava das três da matina quando a ambulância encostou cansada na casa do senhor Ademir, de 87 anos. Ele apresentava uma glicemia lá nas alturas pela diabetes descompensada. Nada que uma boa garrafa de soro fisiológico e um pouco de insulina não resolvesse em poucas horas.

O que ninguém esperava é o que aconteceria com sua esposa – e também sua cuidadora – senhora Glair, de 79 anos.

Quietinha no sofá, ela acompanhava mais um dos muitos atendimentos médicos ao marido quando, do nada, soltou um discreto ‘ai’, desabando inconsciente no tapete da sala. Em poucas palavras, dona Glair sofrera uma parada cardíaca bem diante dos olhos arregalados de seu Ademir.

Nossos idosos são cada vez mais numerosos. Com o avanço da idade, cada qual precisará de alguém que lhe ofereça atenção e segurança. Usualmente os cuidadores são pessoas da própria família, que se desdobram nesta complicada missão. Dependo do idoso, os cuidados se estendem pelas 24 horas do dia, todos os dias, por vários anos. Esposas, filhas e netas são as pessoas que acabam assumindo a função de medicar, cozinhar, alimentar, vestir e promover a higiene do idoso. Nessa rotina sem fim, acabam abandonando a própria saúde, desenvolvendo enfermidades crônicas e transtornos depressivos.

Dona Glair sobreviveu bravamente ao infarto do coração. Agora, alguém precisará cuidar tanto dela quanto de seu Ademir.

Alguém com saúde se habilita?

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