Café com margarina

Noite de verão, plantão tranquilo de domingo. Com preguiça me ajeito em uma das macas da emergência, tentando encontrar o sono perdido.

Quem me dera: em poucos minutos pipocam pacientes por todos os lados.

Corro para atender a uma gritaria no boxe sete. Miguel, 12 anos, queimado em rosto e braços. Sim, no final de cada ano celebramos nossa “paz” e “inteligência” com bombas e fogos de artifício, que são o próprio inferno na terra quando se trata de queimaduras e mutilações.

Tento avaliar a extensão dos ferimentos, mas logo percebo que isso é impossível. Os pais fizeram o favor de cobrir tudo com borra de café e margarina. Mais trabalho para a enfermagem, que precisará lavar tudo com escova, água e sabão. Mais dor para o paciente, que contará todas as estrelas da via láctea. Para diminuir o sofrimento, um analgésico potente e hidratação vigorosa.

O problema dessas queimaduras não está apenas na intensidade da dor ou nas cicatrizes que elas costumam deixar. O que preocupa mesmo é o risco de infecções oportunistas que entram pelos ferimentos e a desidratação associada com hipotermia, que costumam acontecer nos casos mais graves e que podem levar o paciente à morte.

Claro, tudo fica mais complicado quando o primeiro socorro, ainda em casa, é realizado de maneira bizarra. Clara de ovo, hidratante, creme dental, pó de café, manteiga… são soluções mirabolantes que atrapalham o atendimento e que trazem consigo o risco de infecções.

Então, se você pretende ajudar de alguma maneira, não complique. Diante de um acidente desse tipo, afaste a fonte do calor, remova peças de roupa em contato com a queimadura e coloque o ferimento em água corrente por alguns generosos minutos. Proteja o local com um pano limpo e umedecido e procure rápida assistência médica.

Simples assim. Tão simples quanto entender que fogos de artifício deveriam ficar bem longe das crianças. E do resto das outras pessoas também.

Olha só

No Paraná, a instituição de referência no atendimento a queimados é o Hospital Evangélico e que atende, todos os anos, a 20 mil pessoas queimadas.