A COP-26 não pode ser para inglês rural e urbano ver

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Daqui poucos dias, mais exatamente em 31 de outubro, os principais mandatários do planeta e as maiores autoridades em clima vão estar reunidos para a 26º Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-26), em Glasgow, na Escócia, para debater o aumento da temperatura no planeta e formas de frear o aquecimento global.

Esse evento mundial, assim como para nós cidadãos urbanos, é de enorme interesse também dos produtores rurais do Brasil (na verdade, de qualquer agricultor e pecuarista ao redor do planeta).

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A explicação para isso (a primeira delas) é simples: como a agropecuária é uma indústria a céu aberto, o bom e o mau humor de São Pedro têm influência direta no resultado das atividades rurais.

Por exemplo, uma mesma enxurrada que, na cidade, arranca telhados de casas, derruba postes, deixando a população sem energia elétrica, e entope o sistema de água, causando inundação, no meio rural, destrói aviários e granjas, derruba lavouras inteiras de milho, soja, trigo ou qualquer outra cultura e leva embora parte do solo e, com ele, nutrientes fundamentais para o crescimento das plantas. Ou seja, por esses motivos e outros (a lista é imensa) que o tema clima sempre está na pauta de interesse dos produtores rurais, independente da atividade dentro da propriedade.   

Mas, as razões vão além da porteira. Nos últimos meses, o aumento das queimadas e desmatamento no Brasil prejudicaram as vendas do agronegócio nacional no exterior. Muitos países compradores dos nossos produtos colocaram barreiras para novos negócios. O próprio acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, que prometia movimentar bilhões de dólares por ano, foi colocado em status de espera pelos europeus, pois esses discordam das atuais posturas brasileiras em relação a preservação do meio ambiente.

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Podemos continuar a lista. Na COP-26, como em muitos eventos de âmbito mundial que reúne as principais potências, são debatidos acordos onde, em bom português, países ricos repassam dinheiro para projetos em países pobres (sim, estamos neste segundo grupo, caso alguém tenha dúvida). Parte destes recursos vai para obras de infraestrutura e logística, como estradas, portos, aeroportos e ferrovias usadas para o escoamento da safra de grãos e da produção pecuária pelos produtores rurais. Ou seja, sem dinheiro das nações endinheiradas, pior para a infraestrutura do Brasil, pior para os meios rural e urbano.

As discussões da COP-26 vão ocorrer a milhares de quilômetros daqui. Mas, certamente, após o dia 12 de novembro, último dia de discussões, a expectativa é de que a execução do que ficar acertado entre os países seja além do discurso e do papel. Isso para atender os anseios de São Pedro. Afinal, os desdobramentos de um dia de péssimo humor do pescador que se tornou o primeiro Bispo de Roma podem ser severos com os meios rural e urbano.