Tem fortunas que nascem de negócios para os quais ninguém dá valor, como sucata, latas vazias de cerveja e refrigerante, água de coco e placas de publicidade em estádios de futebol, para ficar em alguns exemplos. Os caras apostam num negócio deste, às vezes sem convicção, e quando vão ver, tem casa em Miami, apartamento em Nova York, sem contar a indefectivel conta bancária na Suíça, que milionário brasileiro adora enganar o Fisco, caso contrário nunca seria milionário, porque o Fisco brasileiro é faminto e come tudo.

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Mas, para tudo tem limite. Fiquei espantado quando soube que Frederico Nepomuceno da Silva ficou rico vendendo alho. Quando me disse isto eu reagi espantado: “Alho, cara?”. Frederico Nepomuceno que a esta altura era conhecido nos meios financeiros de Nova York como Mr. Silva nem ficou vermelho e respondeu: “Sim, cara, alho”. Eu ainda estava bestificado. Eu sempre gostei de alho por causa das tranças de Cristina.

Na minha cidade, não sei se ainda hoje, vendia-se alho em tranças. Como gostei de Cristina na minha infância e ela era uma loirinha de tranças, por uma destas transferências emocionais malucas eu passei a gostar de tranças de alho porque me elas me lembravam de Cristina. Assim, como quase chorava ao ouvir Antonio Marcos cantar: “Desde os tempos de criança, você usava trança, e eu gostava tanto, tanto de você…”, eu também me emocionava com as tranças de alho.

As tranças de alho me lembravam da menina de trança que conheci. Eu tive a minha e o Antonio Marcos a dele. Eu fiquei chorando com as tranças de alho como se fossem de cebolas e o Antonio Marcos com a canção: “Menina de trança, matou a esperança de um pobre rapaz”. Eu conto isso para que possam entender o espanto em alguém ganhar dinheiro com alho.

Mas Mr. Silva esclareceu: “Alho dá dinheiro se você souber mexer com o negócio. E foi o que eu fiz”. Mas ele não espichou conversa no saguão do aeroporto Afonso Pena. Mr. Silva estava indo para o Rio de Janeiro de onde iria para Nova York, para a convenção anual de sujeitos que ganham dinheiro com alho. Eu me despedi e ele foi embora todo milionário.

Eu peguei o ligeirinho para o Centro Cívico com a cabeça fervilhando: “Alho! Quem diria! Ele ficou milionário com alho, cara”. Nunca imaginaria que alho desse dinheiro. Quer dizer, dinheiro suficiente para ficar milionário. Mas foi o que aconteceu ao Frederico. Quer dizer, Mr. Silva, o Rei do Alho.

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