O que leva uma pessoa aparentemente comum a puxar um celular do bolso e começar a gravar um adolescente que está em cima de uma passarela, prestes a cometer um suicídio? Pior. Não bastasse o ato condenável, porém cada vez mais comum, a mesma pessoa puxa o coro (ou se junta a ele) de: “Pula, pula, pula”?  

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 O jovem em questão por pouco não desistiu. Pouco antes, após muita conversa com oficiais do Corpo de Bombeiros, ele deu sinais de que iria abandonar a ideia de dar fim à própria vida e sair do local com segurança. Mas o coro de “pula, pula, pula” atingiu-o como uma bomba e o salto de costas para a morte aconteceu de sopetão, para a surpresa e horror de muitos presentes.  

 Engana-se quem pensa que tal história tenha saída de um filme, de um conto extraído dos livros ou mesmo de um dos episódios da série televisiva Black Mirror – que mostra de forma espetacular a maneira com que a tecnologia, seus usos (bons e maus), sua falta de limites e seu futuro, podem influenciar no nosso dia a dia. Essa cena foi testemunhada por dezenas de pessoas à beira da BR-116 em Fazenda Rio Grande, região Metropolitana de Curitiba, nesta terça-feira (06).   

 Por mais triste, mais devastador que seja, a questão aqui não é apenas a morte do jovem rapaz, que chegou a receber socorro, mas não resistiu aos ferimentos. Em uma carta ele relatou as angústias, decepções e desventuras que o levaram a cometer tal ato. O debate que precisa ser feito diz respeito à postura dos cidadãos comuns que incentivaram o salto. 

 Por que?  

 Segundo a psicóloga Simone Steilein Nosima trata-se de um comportamento egocêntrico. As pessoas estão preocupadas apenas com a realidade delas, não em como seu comportamento pode atingir outras pessoas. Atualmente é mais importante você ter o seu registro em vídeo de algo para poder postar nas redes sociais, comentar com amigos e fazer o juízo que bem se entender, do que olhar o outro com compaixão.   

 As pessoas estão crentes de que tudo que fazem não têm consequências. Estão mais ousadas nos comentários, mais ríspidas, indelicadas, sem se preocupar com o outro. Esse egoísmo precisa ter fim. Quem disse achava brincadeira, quem ouviu tomou como literalmente o empurrão que faltava para o fim de suas dores.  

Há um desconhecimento sobre questões complexas como essas. As pessoas tratam da saúde mental de forma velada e ainda sentem vergonha de pedir ajuda. Quase ninguém mais fala sobre suas angústias, sobre ansiedade, depressão e, ainda mais, sobre suicídio.  

Não é difícil perceber o comportamento destrutivo de algumas pessoas (dos que destroem e dos que são destruídos). Cabe a nós refletir sobre nossas posturas e também orientar àqueles que amamos a não incorrer no mesmo erro dos que gritaram “pula, pula, pula” e ignoram o poder que suas palavras podem ter na vida do outro. Se alguém não riu da sua piada, talvez o sem graça seja você.

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