O nome da esperança

Alfried Plöger

O brasileiro, há muito, tem vivido numa insólita dualidade. De um lado, a persistência do desafio inacabado do desenvolvimento socioeconômico e da prosperidade; de outro, a capacidade de acreditar e se manter mobilizado na incansável busca pela redenção nacional. Na intermitência histórica entre tênues períodos de democracia e regimes ditatoriais, o maior mérito de nosso povo foi a inesgotável capacidade de fomentar a esperança.

Colônia, Império, República, Revolução de 30, Estado Novo, eleições diretas, renúncia do presidente Jânio Quadros, movimento militar, redemocratização, eleição e morte de Tancredo Neves, Constituição de 88, pleito presidencial direto, impeachment de Collor, Plano Real, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva… Foi um piscar de olhos no curso inexorável da história, permeado de pacotes econômicos mirabolantes e sempre com final infeliz, crises externas e internas e a perenidade de uma situação econômica muito aquém das reais potencialidades do Brasil.

Independentemente da corrente político-ideológica no poder, em todos aqueles momentos, pôde-se identificar com clareza um vício comum do setor público: o de se colocar sempre como o fim de toda a atividade econômica e da vida do País. Esta presunção atávica do Estado brasileiro significa a inversão absoluta dos mais básicos valores da democracia. A população é, por inquestionável preceito filosófico, a finalidade de toda a estrutura política e estatal. O governo, os poderes constituídos e as instituições são os meios para que a sociedade e cada indivíduo possam, em síntese, viver em paz e buscar a prosperidade pessoal e coletiva.

Todas essas reflexões são muito importantes neste início de um novo ano. Mais uma vez, os brasileiros são chamados a um sacrifício, um aperto de cintos, em nome de um futuro melhor. Agora, como vem ocorrendo há bom tempo, o nome principal da "contribuição" da sociedade chama-se "impostos elevadíssimos e juros superlativos". Porém, renitente e esperançoso por natureza, este incansável povo conduziu a nação a um crescimento econômico em torno de 5% em 2004. E, conforme indicam as estimativas e previsões dos especialistas, já promete ao mundo repetir a dose em 2005.

A indústria gráfica, como todo setor de atividade, tem direto interesse no progresso e no desenvolvimento. Muito além disso, contudo, é muito grande a sua responsabilidade no processo de difusão das informações e do conhecimento, pois, a despeito das mídias eletrônicas e da internet, ainda representa cerca de 70% de toda a comunicação mundial. No Brasil, desde o advento das gráficas, em 1808, com a instalação da Imprensa Régia no Rio de Janeiro, num ato de D. João VI, bilhões de impressos registram para a posteridade as venturas e desventuras do País. É a indústria gráfica que perpetua memórias, como bem testemunha, na Biblioteca Nacional, um quase intacto exemplar da Bíblia impresso há cerca de 550 anos por Gutenberg, na aurora da imprensa no Ocidente.

Nada melhor do que rever o passado para reordenar o presente e garantir um futuro mais auspicioso, e os impressos, como nenhum outro meio, permitem, em sua plenitude, esse exercício de sabedoria e humildade. Assim, seria interessante que, em 2005, o Estado vislumbrasse novas perspectivas estratégicas para o incentivo à economia e se voltasse com mais ênfase aos interesses reais da sociedade. Este seria um ato de justiça e reconhecimento ao valor do brasileiro, sinônimo de esperança e, sem dúvida, o maior e verdadeiro milagre desta nação.

Alfried Plöger é presidente da Abigraf Regional São Paulo (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) e da Associação Brasileira das Companhias de Capital Aberto (Abrasca).