Notas de um futurólogo amador

Ivan Schmidt

Qual é o Paraná, do ponto de vista político-eleitoral, que teremos a partir de janeiro do próximo ano, quando os novos prefeitos assumem seus mandatos e recrudescem as especulações na bolsa de apostas da sucessão estadual? Malgrado as boas intenções de uns e outros – e sempre as teremos -, não se pode afirmar que haja no Estado um ou mais de um partido de expressão real, ou em condições de colocar-se acima dos demais em termos da perspectiva sufragista.

O raciocínio não é válido quando a discussão envereda para o rol de políticos importantes, uns mais outros menos, que emergiram (ou sobreviveram) do resultado final da última eleição. Alguns saídos da batalha eleitoral com razoável número de prefeitos aliados, cacife sempre buscado pelo pretendente a vôos mais elevados e invejado pelos prováveis adversários.

Nesse particular, não se houve a contento a aliança PMDB-PT, mola principal do sistema concêntrico que conquistou o governo estadual, já que os resultados de outubro último nos municípios mais importantes, nas inúmeras leituras feitas, não representam vantagem tangível em relação aos demais competidores. A rigor, a aliança governista, que arrastou em comboio um renque de partidos menores, conseguiu (re)eleger o prefeito apenas em Londrina, perdendo em todos os demais colégios eleitorais representativos, tais como Curitiba, Ponta Grossa, Guarapuava, Cascavel, Foz do Iguaçu e Maringá.

O desastre eleitoral em questão, até agora não explicado com proficiência pelos perdedores, terá peso ponderável nas aflitivas e difíceis negociações com vistas ao pleito de 2006, cuja futurologia sempre diáfana e traiçoeira fazia supor que a situação ganharia de pala erguida, com o atual governador ratificado para um segundo mandato, ou sendo deslocado para a posição de vice-presidente na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (a premeditação mais escancarada de certa linha do atual PMDB), e apoiando um nome petista energizado por um período de experiência administrativa que não fosse, meramente, a gestão de uma quitanda de hortigranjeiros, sem o menor desprestígio aos que exercem o honroso mister.

Trocando em miúdos, é bom acrescentar que o candidato com maior probabilidade de ocupar a cadeira de governador até 2010 haverá de ser aquele que venha a contar com o apoio maciço dos grandes colégios, tarefa das mais ingentes quando não existe afinidade eletiva com os mandatários municipais. Não seria de bom alvitre para a situação sequer torcer na intimidade dos conciliábulos, onde pontificam os áulicos, para que as administrações em foco sejam tão ruins a ponto de perderem a confiabilidade atual.

O PSDB, que tem em suas fileiras o senador Alvaro Dias, o prefeito Beto Richa, o deputado Hermas Brandão, presidente da Assembléia Legislativa, e tantos outros políticos de reconhecida liderança regional, contudo não satisfaz a maioria dos quesitos requeridos de um partido com veleidades à hegemonia. O tucanato tem no Paraná nomes do mais alto respeito, mas carece de estrutura que não seja só uma amarração casuística, passageira, que se sustente apenas enquanto respaldo duma tendência de ocasião.

O resultado mais explícito da eleição municipal nos mostra algumas fraturas na composição política do Estado, que há pouco reunia o governador Roberto Requião, os senadores Alvaro e Osmar Dias e a força emergente do deputado federal Gustavo Fruet. Se esse olhar for um pouco mais retroativo, poder-se-iam citar também as defecções de Euclides Scalco, Rubens Bueno, e do próprio Beto Richa, herdeiro político do pai, cujo legado o colocaria, por coerência, como integrante desse grupo de escol.

Nesse momento, mesmo que não se possa empregar com toda a segurança o desgastado termo aliança, percebe-se que os fados políticos aproximaram, de modo irreversível, os irmãos senadores, o futuro prefeito de Curitiba e o deputado federal Gustavo Fruet. Queiram ou não as indefectíveis cassandras do nosso fluido tecido político, é desse proverbial quarteto que deverá fluir, necessariamente, uma das teias, que, bem trabalhada, definirá o nome do governador do Paraná. Quem viver, verá.

Ivan Schmidt é jornalista.