Língua quente em clima frio

O prefeito Rafael Greca conseguiu se meter em mais uma polêmica. Parece ser impossível domar a língua dele. Em tempos de mídias sociais fervilhando, onde sinceridade é crime, verdade mata e mentira se espalha como óleo em azulejo, qualquer palavra mal colocada pode ser fatal. E, de novo, os moradores de rua cruzaram o caminho do piloto da nossa cidade.

Não sem reacender uma discussão que muito incomoda os cidadãos. Tema repetidamente discutido ao longo da última disputa eleitoral. Curitiba é uma das cidades do Brasil que mais têm, proporcionalmente, pessoas em situação de vulnerabilidade perambulando pelas ruas.

Nas ruas

Em meio à friaca que baixou por essas bandas na semana passada, Greca largou o seguinte comentário: “Ontem – após recusar atendimento da FAS, por estar fortemente drogado e alcoolizado – morreu um homem na praça Tiradentes, num quadro de convulsões. Não queremos perder ninguém por abandono, mas as forças do mal insistem no “direito” de permanecer na rua.” O post segue, elogiando o trabalho das equipes da FAS (Fundação de Ação Social).

Logo depois, e em outros veículos de mídia que reproduziram a notícia dessa morte, o prefeito foi duramente criticado. Com certo exagero, é bem verdade. Não se pode obrigar ninguém a querer ser acolhido. Muitos preferem mesmo ficar nas ruas, podendo usar drogas de todo gênero. São doentes que precisam de tratamento e não têm muita condição de decidir, naquele momento de fragilidade, o que é melhor pra elas. Mesmo assim, não se pode arrastá-las, sob nenhuma hipótese. Em São Paulo o prefeito João Doria Jr. tentou fazer isso e foi barrado pela justiça.

Mas a chama reaqueceu o assunto. O problema é grande e está nas ruas, ocupando calçadas e marquises. A missão dos colaborares da FAS é sim muito nobre e bem realizada. Entretanto, colocar luz sobre a questão apenas nos dias em que o termômetro chega perto do zero é perigoso. Já passou da hora de a cidade abraçar um plano pra reintegrar essas pessoas, tratando-as com a devida dignidade.