Justiça em descompasso com povo

Estão cutucando a onça com vara curta. Ditados populares servem pra explicar momentos históricos. Neste caso, a onça é o povo. Tal como ocorreu seis, sete anos atrás, decisões tomadas em alto escalão começam a provocar a ira popular.

Há algum tempo o que acontece no Supremo Tribunal Federal (STF) apresenta grande desconexão com os ecos das ruas. Não que isso seja obrigatório. Afinal de contas, fosse assim não seria necessária a Justiça. Mas a falta de sincronia é gritante.

O domingo foi de protestos em muitas cidades do país. Vozes contra o STF. A decisão da semana passada, sobre crimes vinculados a caixa 2, tirou o povão do sério. Especialmente por se configurar como um sério atentado a tudo que a Operação Lava jato investigou, descobriu e condenou nos últimos cinco anos.

A partir de agora, de acordo com o entendimento de seis dos onze ministros da corte, ou seja, maioria apertada, crimes de diversas naturezas, como corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, que estão levando políticos e figurões pra cadeia, quando vinculados a caixa 2 de campanha, devem ser encaminhados para a Justiça Eleitoral.

Isso não deveria ser um problema, não fosse este campo da justiça sem especialização para tratar de tudo o que envolve falcatrua com o dinheiro público. Ignoraram os nobres ministros, solenemente, escorados numa interpretação constitucional, que nem todo caixa 2 se resume a grana que circula por baixo dos panos pagando contras de campanha.

Os bilhões desviados da Petrobras pagaram sim muitos santinhos, mas também encheram bolsos e enriqueceram partidos e importantes figurões da República. É certo tirar esse tipo de investigação das mãos de especialistas, porque uma parte até menos importante do crime tem ligação com questões eleitorais? Foi o que decidiram os ministros Marco Aurélio (relator), Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Dias Toffoli.

Em abril a corte irá decidir sobre prisão após sentença confirmada por colegiado em segunda instância. Uma possível revisão do atual entendimento seria mais um duro golpe na estrutura que vem duelando contra a corrupção. Seria como entrar na jaula da onça. Ontem a movimentação popular foi tímida. Mas até onde vai a paciência dos cidadãos de bem? Já tem ministro de toga pensando em se juntar aos insatisfeitos nas ruas.

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