Eles sofrem de ousadia patológica

Por que os brasileiros ainda se espantam tanto com as atitudes dos agentes públicos do nosso país? Simples! Porque eles possuem uma capacidade infindável de se superar. Quando você acha que já viu tudo, eles inventam moda. E conseguem renovar aquilo que outrora causou espanto.

Em certo momento, não se incomodam mais com estereótipos. Dias Toffoli, por exemplo. Por mais que trabalhe cercado por toda pompa, e que suas decisões no Supremo Tribunal Federal (STF) impactem diretamente nos rumos do país, na essência não passa de um funcionário público. Um importante prestador de serviços à nação, que já não se incomoda com tudo o que falam dele.

Dá bananas à opinião pública, ao desrespeitar a toga que veste pra agradar ex-companheiros em suas decisões. Impossível compreender a maneira como ele libertou José Dirceu, condenado a mais de 30 anos, já sem possibilidade de recursos em segunda instância. Usou de argumento estapafúrdio pra justificar a liberdade de alguém que deve à justiça em tantos processos já finalizados, mas que em tempos passados pagou seu salário. Dias deveria estar impedido de atuar em qualquer causa que envolvesse o Partido dos Trabalhadores e seus militantes.

Sindicatos

E o escândalo no Ministério do Trabalho? Helton Yomura, ministro titular, foi afastado por ordem do STF. Alvo de busca e apreensão. Na mira principal da Operação Espúrio, deflagrada pela Polícia Federal para investigar fraudes na concessão de cartas sindicais, que nada mais são do que autorizações de funcionamento pra novos sindicatos.

Cada carta dessas – que na prática não custa nada além das taxas de praxe – chega a custar R$ 4 milhões. Como os sindicatos, em sua grande maioria, são balcão de serventia apenas para seus dirigentes, o Ministério do Trabalho acabou virando, também, um grande balcão de negócios.

O que surpreende – ou não mais – é isso tudo acontecendo mesmo depois de tantas operações, muitas pessoas presas, processadas e condenadas. Os políticos não cansam, e são destemidos. Continuam delinquindo, usurpando de suas funções, e metendo a mão no jarro.

Assim como Toffoli não se importa em ser taxado de “agente do PT no STF”, e continua tirando da cartola interpretações constitucionais benéficas a seus companheiros, Yomura não se intimidou nem num pouco em comandar um esquema tão sujo como esse, mesmo com o país ardendo em constante combate à corrupção.

Há questões morais sérias, patológicas, em tudo isso. É preciso criar ferramentas que permitam à nação tratar dessas doenças. Pois já estamos perto de uma metástase.