Desigualdade social medida no hidrômetro

A insegurança pública está atingindo níveis bizarros. Alarmantes já são há alguns anos. A nova moda é roubar hidrômetros, como bem relatou a repórter Paula Weidlich. A matéria trata do incômodo de moradores da Vila Hauer. Alguns já foram vítimas mais de uma vez. Metais rendem bom dinheiro no mercado negro, e os marginais descobriram mais este canal.

Estamos falando de cerca de R$ 8,00 por quilo de metal, que é derretido e vendido em pontos de reciclagem. Processo idêntico ao que acontece com o cobre, obtido a partir do furto de cabos elétricos, bustos e estátuas, além de placas de monumentos e até cemitérios.

Um submundo que serve pra alimentar quem já rompeu a barreira do desespero e os que se acostumaram ao dinheiro fácil da marginalidade. Na maioria dos casos, pra financiar a drogadição de um número cada vez maior de cidadãos curitibanos. Cuja própria cidadania já escorre pela sarjeta.

Pelas valas também flui a água que fica vazado quando os hidrômetros são sorrateiramente arrancados dos canos. É o aviso. E começo de martírio pro dono da propriedade, que precisa correr atrás de encanador pra estancar o vazamento, registrar boletim de ocorrência e notificar a Sanepar.

O B.O. é fundamental pra conseguir a reposição do equipamento sem custo. Se tiver que pagar, são quase R$ 90,00. Houve vítimas que perderam dois relógios d’água num mesmo dia. Já pensou?

Salve-se quem puder

Situações como essas nos igualam a países de baixíssimo desenvolvimento humano. Onde as imensas desigualdades sociais são resolvidas na força, à margem de regras e leis.

A primeira orientação do poder público é proteger o seu equipamento. Está no contrato que a responsabilidade é sua. Tem gente embutindo na parede, cercando com barras de ferro e cadeado e até colocando câmeras de segurança apontando pra ele. Mas despejar essa responsabilidade exclusivamente nas costas do cidadão de bem é uma injustiça.

A sociedade tem sua parcela de culpa por não abraçar uma grande maioria de pessoas que vivem marginalizadas. É esta a principal missão do poder público, de legisladores e executivos eleitos pelo povo.

Cuidar das pessoas, propor políticas públicas justas e punir quem andar fora da linha, mesmo tendo todas as oportunidades de andar dentro dela. Este é o pulo do gato. Proporcionar a todos que tenham condições de ser abraçados pela sociedade.

Só assim, um dia, os cabos de energia e reloginhos da Sanepar serão poupados.