A obesidade tem sido destaque nos principais veículos e comunicação do país virtude da divulgação pelo Ministério da Saúde (MS) de um estudo que mostra o sobrepeso e suas consequências, sobretudo o diabetes Tipo II, como um problema muito sério e que deverá ser atacado, caso o Brasil não queira se equivaler, em poucos anos, aos números americanos de obesos mórbidos.

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A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) vê com enorme preocupação a expansão desses dados, todos eles preocupantes. Apóia firmemente medidas de prevenção desse desastre, com atitudes de educação, mudança de estilo de vida e higiene dietética. Mas, se admira que nessas matérias não se tenha tocado no tratamento da obesidade e do diabetes já estabelecidos, muito menos no seu tratamento cirúrgico.

Há, no estágio atual de conhecimento, consenso que a obesidade é uma doença crônico-degenerativa cujo melhor tratamento é o cirúrgico, quando se compara as complicações da evolução da doença tratada clinicamente com os pacientes operados. Está além do escopo desse artigo, discutir a via de acesso e o tipo de operação. Entretanto, diversos estudos mostram cabalmente que, não só os doentes conseguem permanecer magros com mais facilidade, viver mais e não adquirem ou interrompem as afecções típicas da obesidade. Qualquer que tenha sido a técnica utilizada.

Dessa forma, é de se estranhar que projetos que levem a possibilidade do tratamento cirúrgico aos indivíduos já obesos, sequer tenham sido ventilados. Essa situação é ainda pior quando nos deparamos com o diabetes, pois seu tratamento cirúrgico é solenemente ignorado nos hospitais públicos fluminenses.

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Pesquisa realizada pela SBCBM, entre agosto e novembro de 2009, mostra que o índice de massa corporal (IMC) médio dos diabéticos tipo II brasileiro, é de 28,6kg/m2. São pacientes com pequeno sobrepeso em relação ao ideal, que é de até 25kg/m2. Ou seja, nem seriam considerados “gordinhos”.

Segundo o estudo do MS, 5,8% dos brasileiros são diabéticos e essa taxa tende a subir. Falando assim, parece pouco, mas são mais de 11 milhões – brasileiros com a terceira causa de morte no país, atrás apenas das causas coronárias e cardiovasculares. Quantos desses enfartos do miocárdio e AVCs terão sido causados por diabetes mal controlados e/ou obesidade mórbida?

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Na visão da SBCBM, os custos do tratamento cirúrgico seriam plenamente justificáveis, se os nossos elaboradores de políticas de saúde soubessem ao certo, quanto custa um diabético por ano e o impacto disso no orçamento dos indivíduos e do país.

Recentes estudos indicam que no Reino Unido as despesas de controle e tratamento do diabetes e suas patologias relacionadas, atinge a 5% do orçamento do sistema de saúde. Isso significa mais de R$ 9 bi. Essa conta precisa ser feita por nós, de maneira que possamos avaliar com seriedade a possibilidade de oferecer um modelo terapêutico seguro, construído dentro de padrões éticos e científicos, para milhões de cidadãos que são obesos, não por que querem sê-lo e ainda mais, são diabéticos, ainda que não obesos.

Mario Victor de Faria Nogueira, Representante da SBCBM no CFM – Ricardo Vitor Cohen, Presidente da SBCBM