O novo acordo ortográfico está vigendo em Portugal?

(Entrevista concedida por membros da Academia das Ciências de Lisboa ao colunista Albino Freire).

No mês de setembro próximo passado, em Lisboa, tive a honra de ser recebido por membros da Academia das Ciências de Lisboa, em sua secular e belíssima sede. O prédio imenso, onde antes havia um mosteiro, hoje abriga as dependências da Academia, que ainda divide o espaço com um museu e um hospital. O que mais impressiona o visitante é o anfiteatro, luxuosamente decorado, pé direito altíssimo, cujo teto e paredes são recobertos por belíssimos afrescos. Ali funcionava o antigo refeitório do convento.

Por mera fidalguia e generosidade dos Acadêmicos, sob a coordenação do Vice-Presidente, Professor Doutor Adriano Moreira, foi-me permitido sabatiná-los sobre questões referentes ao recente acordo ortográfico entre os países lusófonos, ou melhor, lusógrafos.

O colunista ­ – Após a vigência do acordo, tenho escutado muitas críticas à postura de Portugal, acusado de estar boicotando o cumprimento do acordo. O que têm os senhores a dizer sobre isso?

Acadêmicos ­ – Não estamos, em absoluto, boicotando o acordo. Tanto o Governo, como a Academia, estão cumprindo sua parte.

O colunista – Senhores, não quero contrariá-los, mas estou em Portugal há cerca de quinze dias. Tenho lido jornais e revistas e tenho visto diversos programas de televisão. E eu lhes garanto que não percebi nenhum sinal de que tenha havido qualquer mudança… Continuo tropeçando nos “actos”, “projectos”, “óptimos”, “afectados”, “activos”, “actor”, “actriz”… Tenho visto, também, os nomes de meses grafados com a inicial maiúscula…

Acadêmicos – ­ Mas, acontece, que temos prazo até dezembro de 2012 para finalizar os termos do acordo. Até lá, todas as modificações estarão, com certeza, incorporadas.

O colunista ­ – … E quanto a essa enorme diferença de sotaques entre o português de Portugal e do Brasil, o que poderia ser feito ­ se é que se poderia fazer alguma coisa? A propósito, estou chegando da Espanha e confesso aos senhores que eu entendia melhor o espanhol deles do que o português dos senhores.

Acadêmicos ­ – Nada a fazer. A língua de vocês é sonora e suave, temperada com açúcar e com aquele dengo oriundo da influência africana, levada para a casa grande pelas mucamas e amas de leite. Já o nosso sotaque é sincopado, irrompendo aos solavancos, semelhante ao galopar do ginete do Rei Afonso Henriques e dos cavalos de seus soldados…

Gratos a todos pela colaboração.

Por hoje, é só. Até o próximo domingo!

Albino de Brito Freire, juiz aposentado, é membro da Academia Paranaense de Letras.

Leopoldo Scherner é membro da Academia Paranaense de Letras e professor universitário aposentado.