Ignorância que salva vidas

Cláudio Galeno (129 a 200 d.C), o grande médico grego que viveu no Império Romano viajava muito pelos domínios dos césares. Em uma dessas jornadas, ele parou numa cidade para comprar mantimentos.
 Galeno não sabia que uma tragédia havia se abatido sobre a cidade, e na saída, foi surpreendido por uma comitiva de cidadãos que exigia uma audiência com ele.

O mais falante da comitiva deu ciência do fato: “Ora, ora! Mas que sorte a nossa, termos o grande médico Cláudio Galeno em nossa cidade. Justo no momento em a peste nos ataca. Que conselho nos dá para combater este mal?”.

Muito assertivo, Cláudio Galeno respondeu: “Eis o conselho, peguem as suas coisas e vão embora daqui, para o mais longe que puderem e fiquem por lá o maior tempo conseguirem”. Dito isso, montou no seu cavalo e foi embora. 

O pessoal esperava mais do grande médico. Galeno era considerado um prodígio da medicina. Foi pioneiro em dissecar macacos com maestria, mapeou os nervos e ossos do cérebro humano, desvendou a função do coração e das artérias, enfim seus estudos serviram de referência para medicina até 1.100 anos depois da sua morte, o que não é pouca coisa.

E ainda assim não ajudou os flagelados da peste. Por que? Simples: Galeno ignorava a cura da peste. Ele não era como os outros médicos que fingiam saber a cura da doença. Ficavam dando poções e mandingas para os moribundos, aquilo acabava de matá-los. Alguns ainda cobravam por isso, verdadeiros mercenários.
 Galeno não era assim. Ele não tinha vergonha de dizer que ignorava o assunto. Agora, de uma coisa vocês podem estar certos: o que Galeno sabia, era com segurança. 

E neste caso da peste sua sacada foi genial. Galeno percebeu que indivíduos sadios quando convivem com outros indivíduos sadios, permanecem sadios. Por que isso acontecia ele não sabia, só sabia que funcionava.

E estavam lançadas as bases do conceito de isolamento de doentes, que perdura até hoje na medicina moderna. Daí o seu conselho: “peguem as suas coisas e vão embora daqui para o mais longe que puderem e fiquem por lá pelo maior tempo que conseguirem”. E Galeno estava certo. Quem seguiu o seu conselho se salvou. Até porque, a cura da peste só surgiu 1.600 anos depois demandando esforços conjuntos da ciência, do poder econômico e governos.

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