As aventuras amorosas do Pernambuco

Se tem um cara gente boa, este cara é o Pernambuco! Na empresa é unanimidade, menos com as mulheres da limpeza que o consideram muito folgado. Mas nos outros setores é o herói da galera. Baixinho, cabeça chata, de óculos, sempre com a bolsa a tiracolo, usa camisas de cores berrantes, Pernambuco é o rei do pedaço. Sua fama extrapola o chão de fábrica onde atua e chega a todos os setores da empresa.

E não é para menos: as histórias do Pernambuco são hilárias demais, colocam qualquer stand up comedy no chinelo. Funcionam tão bem por causa da sua espontaneidade. E detalhe: a maioria tem um fundo de verdade e são aventuras vividas pelo próprio Pernambuco. Quase tudo em que o homem se envolve acaba virando piada. Por exemplo, quando um supervisor novo começou na empresa e quis saber quem era o Vladimir, o Pernambuco saltou todo solícito com seu indefectível macacão cinza.

Muito educado cumprimentou o novo chefe e explicou com seu sotaque característico que ninguém o chamava de “Vladimi”. “Só me chamam de Pernambuco”. O rapaz balançou a cabeça já com um ar de riso, querendo saber por que um nordestino foi batizado com nome russo. E Pernambuco já emendou: “É que meu pai era fã dos filmes do Drácula e gostou da sonoridade do nome ‘Vlad’ e colocou ‘Vladimi’, e assim foi”, disse o Pernambuco, cuja voz já era abafada pelas gargalhadas da galera.

Agora, o pessoal se divertia mesmo quando alguém provocava: “E a mulherada, Pernambuco? Estou sabendo que você está pegando geral”. Pronto! Lá vinha bomba. Numa dessas, Pernambuco reagiu nervoso. Disse que estava cansado: “Mulher é tudo traíra”, desabafou. Com esta deixa, os colegas de trabalho quiseram saber se o Pernambuco, que é casado, estava tomando chifre. Ele ficou uma fera e disse que não era nada disso. Depois desembuchou. Numa de suas puladas de cerca, Pernambuco se engraçou com uma dona descrita por ele como uma moça muito bonita. Diz o Pernambuco que a mulher também ficou interessada e dois trataram de procurar um lugar para ficar a sós.

Foram para os lados do terminal do Guadalupe e pegaram um quarto num hotelzinho. Quando o clima começou a esquentar, a mulher falou com voz de mel para o Pernambuco: “Amor, por que você não vai tomar um banho? Eu vou te esperar aqui sem roupa”. Pernambuco ficou inebriado com aquele jeito meigo e maravilhoso da gata e seguiu a ordem como se estivesse hipnotizado.

Se enfiou logo embaixo do chuveiro e esfrega daqui e dali, só pensando nas delícias que o esperavam quando estivesse transando com aquela “deusa”. Saiu só com toalha enrolada na cintura e fez uma graça: “Pronto amor, vem com o teu cheirozão!”. Falou para ninguém porque o quarto estava vazio. Foi conferir a carteira e viu que a mulher tinha levado quase todo o seu dinheiro. Fazer o quê? O jeito foi vestir a roupa e juntar os trocados para pagar o hotel.

Desapontado, Pernambuco não quis dar queixa. Ficou com vergonha de encarar os policiais. Teria que dar pormenores e ainda descrever os traços físicos da moça. E se ela não fosse tudo aquilo que o Pernambuco tinha propagandeado seria mais um problema. Sem contar que os policiais iriam perguntar como ele caiu num truque velho como este. A ironia era que ele só faltava colocar a história no jornal, mas não queria envolver a polícia no caso.

As gozações não cessavam, mas algumas semanas depois Pernambuco chegou com ar superior na firma. Era o sinal de que estava com a bola toda. Não tardou para alguém provocar: “E a mulherada, Pernambuco?”. Ele mal esperou o outro terminar a frase e já foi logo dizendo que havia se dado muito bem no dia anterior. “Fiquei com uma mulherona alta”, esticava o braço para destacar a altura. A descrição continuava sempre encorajada pelo grande número de ouvintes. E o Pernambuco se esmerava: “Tinha um cabelão comprido, pernas longas, seios enormes…”, até que alguém gritou: “Mas isso parece um travesti”!. E o Pernambuco respondeu na bucha: “Mas era mesmo, um travesti muito bonito”. A galera rolava de rir. “Você é louco, rapaz! Pegar travesti!”, detonou o gaiat,o. E o Pernambuco com sua ingenuidade peculiar: “Mas se eu não pegar, outro pega! E aí, como é que fica”?