Esses dias eu estava conversando com um amigo sobre viagens e ele me contou que a paisagem mais bonita que já viu foi uma cidade com moinhos, na Holanda, e as praias do Ceará. Enquanto ele falava sobre a beleza desses lugares, eu fiquei pensando em qual seria a minha paisagem favorita pra continuar a conversa.
Na hora, me veio à cabeça um dia qualquer. Daqueles em que a gente vai buscar as crianças na escola e elas voltam superempolgadas, fazendo graça e rindo o tempo todo. Logo pensei que aquele não era o foco da conversa e tentei puxar da memória os lugares mais lindos que eu já conheci.
Lembrei das praias de Arraial do Cabo. E da Laura mamando quando era bem pequenininha. Tentei voltar para a paisagem. Lembrei do Jardim Majorelle, no Marrocos. E da risada das crianças quando a gente brinca no chão da sala. Essa conversa não saiu da minha cabeça por dias.
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Fiquei pensando sobre o pensamento. Tentando entender como ser mãe pode ser tão difícil, tão cansativo, tão pouco glamouroso às vezes e, ainda assim, a experiência mais incrível do mundo.
Eu sempre digo que o melhor conselho que posso dar para alguém que quer ter filhos é: tenha. Vai ser a experiência mais importante e incrível da sua vida. E o melhor conselho que posso dar para quem não quer ter filhos é: não tenha.
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Nada é tão difícil e tão cheio de incertezas quanto criar uma criança. A parte difícil é tão difícil que, se você não quiser de coração passar por tudo isso, talvez a experiência incrível de ser mãe acabe virando uma enorme frustração. Ter filhos não exige 100% da gente. Tem dias em que exige 120%. E mesmo nos dias em que o nosso melhor é bem menos do que isso, a gente dá um jeito de entregar o impossível.
Ter filhos pequenos atualiza completamente a nossa definição de cansaço e faz com que a gente tenha muita dificuldade em descansar. Parece que mãe está sempre preocupada, sempre tentando resolver e prever todos os problemas. É isso que faz a gente lembrar o filho de levar um casaco, perceber o silêncio como um perigo ou sair correndo para impedir a criança de fazer algo que não pode.
A vida depois dos “dois risquinhos”; registros de uma família feliz
A neurociência traz várias explicações para isso. Mostra que a nossa amígdala, a parte do cérebro responsável por nos manter em alerta (não aquela amígdala que a gente costuma tirar quando é criança) fica hiperativada. Há uma redução de volume em regiões ligadas à empatia e à percepção social. Talvez por isso aquela amiga com filhos pequenos pareça ter dificuldade em prestar atenção na conversa: a atenção dela precisa estar dedicada ao bebê.
Além disso, as mães têm uma explosão de ocitocina. O mesmo hormônio que nos torna mais amorosas também nos mantém constantemente em alerta. Ser mãe muda completamente a nossa visão de mundo. Faz com que os olhinhos do bebê olhando para a gente se sobreponham à lembrança da primeira vez que vi a Igreja da Sagrada Família e olha que foi uma das coisas mais esplendorosas que já vi.
Ser pai não é ter superpoder: é ter superpresença todos os dias!
Toda aquela beleza majestosa e imponente de uma igreja daquele tamanho não é mais bonita do que a primeira vez que o Bê me chamou de “mamãe minha”, fazendo biquinho, ou das centenas de vezes por dia em que ele me chama de “mamãe Beatiti”.
Amar um filho é conhecer um tipo de amor que não se compara a nenhum outro. Um amor que faz com que todas as outras coisas pareçam triviais. O que é a magia de fazer a contagem regressiva do réveillon em frente ao Big Ben perto da risadinha das crianças quando a gente faz cosquinha nas mini costelinhas?
Depois que virei mãe, nunca mais fui a mesma – ainda bem
Eu entendo, de coração, as pessoas que optaram por não ter filhos. Muda tudo. Muda o mundo. Mas como diria Santa Teresa D’Ávila “é justo que muito custe o que muito vale” e ser mãe vale cada esforço.
Porque, no meio do caos, do cansaço e da exaustão, a gente descobre que a paisagem mais bonita da vida não está em nenhum lugar do mundo, ela chama a gente de mãe.
