Nessa era em que tudo é para postar, existe uma legenda que se tornou quase um clichê: “criando memórias”.
A verdade é que a gente sabe que nem tudo o que leva essa legenda, de fato, vira uma memória bonita. Às vezes, basta um ângulo bem escolhido para transformar um recorte da vida em algo que parece muito mais memorável do que realmente foi. É o que acontece quando se passa mais tempo postando do que vivendo os momentos que importam.
Mas hoje eu quero falar de um daqueles dias dignos de tela de cinema — ou de propaganda de margarina.
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Era junho de 2024. A Laura estava prestes a completar um mês de vida, eu ainda me recuperava física e emocionalmente de uma gestação difícil, e aquela data também marcava dez anos desde a perda da minha mãe. Foram dias difíceis por aqui.
Num típico dia curitibano — frio e chuva — eu decidi que precisávamos sair de casa. Eu precisava de algo, embora nem soubesse exatamente o quê. Então eu lembrei da Sopa de Cebola do Baviera. Lá fomos nós abrir o restaurante, jantar cedo e voltar logo.
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A noite foi surpreendentemente agradável. A sopa continuava deliciosa, como eu me lembrava, e eu suspeitei que aquele poderia ser o começo de uma tradição.
Um ano e três meses depois, arriscamos de novo. Fomos com aquela insegurança de todo pai e mãe que não faz ideia se os filhos vão se comportar como anjinhos ou como a tranquilidade do Taz-mania. Mas reunimos coragem e fomos. E que bom que fomos! A noite foi tão gostosa que, mesmo passando da meia-noite, estou aqui escrevendo sobre ela, em vez de aproveitar para dormir.
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Dessa vez, a sopa deu lugar ao Festival de Lasanha, mas o carinho com que fomos recebidos, a atenção dedicada aos nossos filhos e todo a magia do Baviera transformaram o jantar em mais uma memória daquelas que guardamos na parte mais especial do coração.
Na primeira vez que fomos lá, nossa reserva era para dois, na parte mais alta do Baviera. Agora, nossa mesa era para quatro, em um cantinho mais tranquilo, para que as crianças ficassem à vontade.
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E sabe o que marcou mais até do que a Sopa de Cebola? O Bê levantando da cadeira para ajudar a Laura a tomar o “suco nananja” — que ele mesmo tinha pedido minutos antes para o nosso garçom, o Gabriel.
São 53 anos de tradição em Curitiba, e agora já são três anos de tradição na nossa família.
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Um dia, tenho certeza de que o Bernardo e a Laura vão passar pela esquina do Baviera e lembrar que, todos os invernos, eles iam tomar Sopa de Cebola com a mamãe e o papai.
Memórias assim não precisam de legenda. Elas se criam sozinhas.
