Un chico muy hermoso

dmen1020406.jpgO alemão Lothar Matthäus estraçalhou corações durante seu breve périplo por Curitiba. Mas nunca um outro forasteiro arrancou tantos suspiros de senhoras e senhoritas quanto o argentino Eduardo Dreyer, ex-craque do Coritiba FC.

Eduardo Francisco Dreyer nasceu na bela cidade de Córdoba, no centro da Argentina. Foi um "chico muy hermoso" da classe média, que cresceu chutando lata na Calle Obispo Trejos, 42, endereço da Universidad Nacional de Córdoba, a primeira universidade da Argentina. Ali onde a família Dreyer enxergava o futuro de Eduardo, que ainda na escola secundária estudava contabilidade, datilografia e aprendia piano.

Estudou num seminário, mas a rotina de missas revelou que a vocação do "chico muy hermoso" era outra. Depois de tantas escapadas noturnas, Eduardo resolveu confessar os pecados: recebeu do padre, além da penitência, uma advertência: "Meu filho, reze cinco pai-nossos, dez ave-marias e vá correndo falar com o padre Miguel porque você vai ser expulso do colégio".

Depois de cinco anos de vida religiosa, e já cursando Medicina Veterinária em La Plata, só uma outra vez Eduardo seria expulso. Em Buenos Aires, justo na decisão do campeonato argentino, quando estreou a camisa titular do glorioso River Plate. Aos dez minutos do primeiro tempo, deu um pontapé no adversário. Desnorteado, não achou o caminho do vestiário e veio parar no Brasil.

Com 21 anos, Eduardo Dreyer chegou a Curitiba em fins de 1971, onde o destino lhe reservou quatro anos de altas glórias e a posição de titular absoluto no coração da torcida feminina do Coritiba FC.

Se no Alto da Glória Dreyer ganhou tudo, na melhor fase da história do Coritiba, fora dele ganhou todas. Com 1m80, 74 quilos, olhos azuis, cabelos de pequeno príncipe, Dreyer mostrou seus dotes já na sua primeira entrevista na televisão: começou o programa interpretando La cumparsita ao piano e encerrou tocando fundo no coração da apresentadora, uma das mais belas mulheres do Paraná.

Não foi o último concerto do argentino bem dotado. Com seu peculiar charme e porte atlético, encantou a fina flor da sociedade e sua presença era música na casa das melhores famílias, ainda que naquela época toda donzela tivesse um pai que era uma fera.

Jogador de futebol, Dreyer não era um bom partido. Era um belo partido. E isso o fez colecionar muitas donzelas de muitos pais que eram uma fera e uma estarrecedora manchete de jornal.

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Dois meses depois de uma breve estada em Córdoba, o destino mais uma vez veio lhe bater à porta. Mas não na porta da suíte do Hotel Iguaçu, onde morava. Dreyer abriu a porta da "garçonière" que reservava para assuntos íntimos e intransferíveis, quando eis que surge de Córdoba a antiga namorada, a mãe, o pai e uma notícia: a "nobia" estava grávida.

O destino traiçoeiro. Momentos seguintes, novamente batem à porta e a solene reunião de família foi interrompida por outra visita: ela, a mais bela apresentadora de televisão do Paraná.

O volante Dreyer, craque que organizava os ataques do Coritiba, conseguiu driblar a bela apresentadora, mas foi driblado pela namorada grávida e o casamento foi marcado, em sigilo absoluto, para um domingo de futebol: Coritiba x Fluminense, no dia 10 de outubro de 1973. O Coxa ganhou de um a zero, gol de Zé Roberto, de calcanhar e entre as pernas do goleiro.

No dia seguinte, a edição da Tribuna do Paraná saiu com a seguinte manchete:

– Coritiba ganha do Fluminense e Dreyer se casa.

Texto e manchete bem ao estilo do falecido jornalista Albenir Amatuzzi – Quase em segredo, o presidente Evangelino Neves reuniu domingo à noite em sua casa alguns poucos convidados para a reservada cerimônia de casamento do volante Dreyer. A noiva voltaria ainda naquela semana para a Argentina.

De fato, a esposa voltou para Córdoba, uma inconformada jovem da sociedade fugiu de casa, a bela apresentadora de televisão se refugiou no Rio de Janeiro, onde fez carreira em novelas, e as demais donzelas que tinham um pai que era uma fera ficaram estarrecidas com a manchete do jornal.