Sem armas, vamos aos copos

“Charlie Hebdo”, o nosso velho conhecido da imprensa canalha francesa, saudou os terroristas islâmicos com uma capa no seu estilo de sempre: sob um fundo vermelho, um homem com o corpo perfurado segura uma garrafa de champagne em uma das mãos e uma taça na outra. De cada furo de bala, no lugar de sangue sai champanhe. No desenho, a provocação do cartunista chamado Coco: “Ils ont les armes. On les emmerde. On a Le champagne!”. Numa tradução livre: “Eles têm as armas. Eles que se f… Nós temos o champanhe!”.

E não só do champanhe vivem os franceses. Além dos brancos e tintos, dos destilados e fermentados, os parisienses não só vivem como também nasceram dentro dos primeiros bares do planeta – e é por isso que aqueles abutres armados se explodem de inveja.

Se o bar não fosse invenção francesa, a vida seria uma barra. No sentido de horror. Em Paris, quando se diz que bar é barra, a afirmação procede no bom sentido. No século XVIII, as tavernas parisienses tinham uma barra a todo comprimento do balcão para evitar quer os bitruqueiros se encostassem demasiado. Bem antes de Ernest Hemmingway, era frequente a presença de jovens americanos em Paris para realizarem os seus estudos e, como não podia deixar de ser, tornavam-se assíduos frequentadores das tavernas.

Dois desses estudantes americanos, ao regressarem, inauguraram um botequim que, como novidade, apresentava uma barra ao longo do balcão. Idêntica às que existiam na França. Rapidamente, o estabelecimento etílico virou moda e a barra do balcão também. E assim a palavra barra – “bar” na versão inglesa – ganhou o mundo. O mundo ocidental, bem entendido, pois no mundo árabe ou é bar ou é bala.

A capa do “Charlie Hebdo” poderia também ser outra: “Eles chafurdam no deserto. Nós flanamos em Paris!”- mostrando Brigite Bardot desfilando à beira do Sena. Para quem ama Paris, o “flâneur” representa o indivíduo imerso na multidão, mas que não pertence a ela: “Para o ‘flâneur’ perfeito, para o observador apaixonado – dizia Baudelaire – é uma prazer imenso morar no coração da multidão, em meio ao fluxo da maré humana, fugidia e infinita”.

Com um brinde ao “Charlie Hebdo”, a Paris e aos parisienses, os terroristas que se f…! Sem armas, vamos aos copos!