Quando a lua vai embora

Perdemos Carlos Antunes dos Santos, ex-reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPr). Professor graduado e pós-graduado pela UFPr, doutor pela Universidade de Paris e com Pós-Doutorado na École des Hautes Études d’Amérique Latine, também na Universidade de Paris, dentre todos os títulos que esse intelectual colecionava, os mais lembrados por ele eram os títulos do Clube Atlético Paranaense.

E motivos não lhe faltavam. Era filho de Ruy Castro dos Santos, o Motorzinho, técnico do famoso esquadrão de 1949 que deu origem ao apelido de Furacão ao Atlético Paranaense. Como se fosse pouco, Carlos Antunes jogou no time juvenil do Atlético e foi bicampeão nos anos 60, num time que contava com futuros craques como Alfredo Gottardi e Raul Plasmann. Carlos era ponta-esquerda e também era chamado de Motorzinho, como seu pai.

Nessas alturas do campeonato, já ao lado do eterno presidente Joffre Cabral e Silva, os dois “Motorzinhos devem estar contando histórias do futebol, em torno de uma sapecada de pinhão:

– Lembra, meu pai? Quando o senhor era treinador do Ferroviário e escalou o Sicupira pela primeira vez numa partida oficial?

– Lembro, filho! Foi na época do Hipólito Arzua, muito meu amigo. No juvenil estava o menino Sicupira. Teve uma decisão entre o Ferroviário e Água Verde, no Durival de Britto. Chamei o velho Barcímio e disse: “Olha, eu vou colocar o teu piá pra jogar!”. O pai do Sicupira não queria, achava que queimaria o garoto. Não quis saber. Chamei o Sicupira na beira do gramado e disse: “Olha, você vai entrar!”. O Sicupira não recuou. Resultado, o Ferroviário ganhou de 1×0, com gol de puxada da meia lua daquele piá!

Professor Titular do Departamento de História da UFPR, com a tese “Alimentar o Paraná Província”, os estudos de Carlos Antunes se destacaram na área de História da Alimentação (História, Gastronomia e Cultura Alimentar), mas acima de tudo era um apaixonado pela cultura popular.

Numa viagem para São Mateus do Sul, onde fomos provar o raro “charque no vapor do Rio Iguaçu” para o número um da revista “Helena”, Carlos me contou da trágica história de Oswaldinho e Vieirinha, a dupla sertaneja que em 1957 dividia o coração dos curitibanos com Nhô Belarmino e Nhá Gabriela. Belos e jovens, no auge da fama Oswaldinho comprou uma moto Harley Davidson e, em alta velocidade, bateram num caminhão na esquina da Rua XV com Mariano Torres. Oswaldinho morreu na hora, Vieirinha sete dias depois.

Com o coração na mão para acompanhar a agonia de Vieirinha, a cidade parava para ouvir no rádio o grande sucesso da dupla: “Eu vou embora / Vou pra onde a lua vai / A lua vai e volta / Eu vou e não volto mais”.