O pescoço de Eduardo Cunha

“Que o Eduardo Cunha é um morto-vivo perambulando pelos corredores da Câmara dos Deputados, isto só não vê quem já está morto e enterrado” – afirma Jaguara, o festejado Animador de Velórios dos Campos Gerais. O que agora causa espanto em Brasília é como pode uma criatura perder o pescoço e ainda continuar na ativa, como se nada tivesse acontecido.

– Nesses momentos de crise política, moral e econômica, é difícil ficar com a cabeça no lugar! – analisa o Jaguara. – Mesmo assim, muitos estudos já foram feitos pra responder a uma pergunta de cunho médico-científico: a morte na guilhotina é instantânea a ponto de ser indolor?

Alguns estudiosos da morte pela guilhotina acreditam que não. Argumentam que “a queda da lâmina, cortando rapidamente o pescoço e a coluna vertebral, tem o impacto relativamente pequeno sobre o crânio, que contém o cérebro e, portanto, não deve haver inconsciência imediata”. Caso isso seja verdade, as vítimas sabem o que está acontecendo?

– Aparentemente, sim! – conta o Jaguara. – Em junho de 1905, por exemplo, um respeitável médico francês teve licença para fazer um experimento com a cabeça cortada de um prisioneiro chamado Languille.

Seu relato diz que “imediatamente após a decapitação os movimentos espasmódicos cessaram. Então chamei em voz forte e áspera: Languille! E vi suas pálpebras se levantarem lentamente com um movimento regular, bem distinto e normal. Os olhos de Languille se fixaram muito certamente nos meus, com as pupilas focalizando. Eu estava vendo olhos inegavelmente vivos olhando para mim… Depois de vários segundos, as pálpebras se fecharam. Chamei novamente, as pálpebras tornaram a se levantar, e olhos vivos se fixaram em mim, talvez mais penetrantes que da primeira vez. Depois as pálpebras se fecharam de novo e não houve mais movimentos”. Na revolução francesa, a lâmina do Dr. Guillotin subia e descia quarenta, cinquenta, sessenta vezes por dia. O crime era estar sob suspeita. Políticos guilhotinavam uns aos outros para escapar do mesmo destino.Quase o mesmo está acontecendo em Brasília, tanto no Palácio do Planalto como no Congresso Nacional, onde rolam os pescoços.

– Mas nada para nos deixar aterrorizados! – tranquiliza o Animador de Velórios dos Campos Gerais. – Como se sabe, no Brasil só quem perde a cabeça é pobre endividado, marido traído ou corrupto aloprado!