No final do século passado, pra fazer cumprir o apocalipse, o Todo Poderoso chamou Noé da Silva, brasileiro, desempregado e morador da favela do Alemão e ordenou:
– Depois do carnaval, na quarta-feira de cinzas, farei chover ininterruptamente durante 40 dias e 40 noites, até que todo o Brasil seja coberto pelas águas. Os maus serão destruídos, mas quero salvar os justos e um casal de cada espécie animal.
E determina, tal e qual a passagem bíblica, a construção de uma arca de madeira.
Quarta-feira de cinzas, os trovões deram o aviso e os relâmpagos cruzaram os céus do Brasil.
Enquanto o céu desabava, Deus olhou para a terra brasileira e viu o coitado do Noé da Silva ajoelhado. A voz do Senhor soou furiosa entre as nuvens:
– Onde está a arca, Noé?
– Perdoe-me, Senhor! – suplicou o bom homem. Fiz o que pude, mas encontrei dificuldades imensas. Teria primeiro que obter uma licença na prefeitura e pagar altas taxas para conseguir o alvará, mais 10% por fora. Precisando de dinheiro, fui aos bancos e não consegui empréstimo. As taxas de juros estão pela hora da morte. O Corpo de Bombeiros exigiu um sistema de prevenção de incêndio e saída de emergência. Começaram então os problemas com o Ibama para a extração de madeira. Eu disse que eram ordens Suas, mas um funcionário me confidenciou que toda a madeira já estava vendida para a União Européia e Estados Unidos. Tentei falar com o diretor, mas descobri que ele só atende sob recomendação do Jáder Barbalho. Nesse meio tempo, o Ibama também descobriu um casal de micos-leões-dourados, no meio da bicharada e me aplicou uma multa milionária. Quando resolvi começar a obra no peito e na raça, apareceu um sindicato exigindo que eu contratasse seus marceneiros com garantia de emprego por um ano. A Secretaria de Meio Ambiente pediu um Relatório de Impacto Ambiental sobre a área a ser inundada. Quando mostrei o mapa do Brasil, exigiram também um atestado de sanidade mental. A Receita Federal, quando viu tantas espécies raras reunidas na minha casa, alegou sinais exteriores de riqueza e tomei outra multa milionária. Como se não bastasse, a Saúde Pública interditou a Arca por falta de um sistema de tratamento sanitário das fezes animais, pois não iriam permitir jogar bosta no dilúvio.
Noé terminou o relato chorando, mas notou que o céu clareava e a chuva minguava.
– O que está acontecendo? Então o Senhor não vai mais destruir o Brasil?
– Não! respondeu a voz Dele entre as nuvens. Alguém já se encarregou de fazer isso.
HISTÓRIA DE UM BAIXINHO
Coitado do anão. Vivia na maior infelicidade, numa tristeza infinita, cabisbaixo, sempre humilhado e desprezado. Enquanto os colegas e vizinhos mudavam de vida, exibiam novas conquistas profissionais e amorosas – Ai, dor! -, o anão patinava na vida.
Certa feita, o pequerrucho pegou na rua um panfleto propagando os poderes de um centro de umbanda, indicando os caminhos do além na busca para a felicidade.
E a encontrou. Depois de meses e meses freqüentando a umbanda, o anão já não era mais o mesmo: saia do centro feliz, radiante e contente, saltitando de felicidade.
Dia desses, encontrou com um velho conhecido do bairro que perguntou curioso:
– Por que é que você está tão feliz agora? Quando eu o conheci, você era uma pessoa tão triste, tão desanimada da vida…
E a resposta veio pronta:
– Porque agora eu não sou mais anão. Agora sou médium!
É ISSO AÍ
Está explicada a queda de Álvaro Dias nas pesquisas. Com Tony Garcia a tiracolo, Álvaro não tem uma coligação. Tem um consórcio!
Até domingo, nesse mesmo espaço que não é gratuito.