
Na manhã do dia 26 de novembro de 1969 o repórter Manoel Moraes Neto e o fotógrafo Agenor Santos saíram em busca de informações em Porto União e arredores. Seguiram para a casa onde nascera e vivera por um bom tempo o menino Charles. Era uma casa de seis peças, escondida num vale muito verde, uma morada de arquitetura colonial alemã toda de madeira, a 20 metros de um riacho de águas muito claras.
Sentado à mesa da cozinha, o tio José Rehme recordava: "Não morávamos ainda em Maratá, quando minha irmã Ana e Josef se casaram, em Porto União. Logo nasceu uma menina, Erna. Depois, em 1929, nasceu o Charles. Ele tinha um ano e pouco de idade quando meu cunhado resolveu ir embora para a América do Norte. Isso foi em 1930, quando eu também vim morar nessa casa. A família seguiu para São Paulo e dali para o Porto de Santos. As primeiras cartas que recebemos deles vinham de Nova York, do Brooklin. Depois, em 1939, eles voltaram para essa mesma casa, para retornar definitivamente para os Estados Unidos em 1940. Charles já era grandinho, devia ter uns 10 ou doze anos".
Josef Konrad, imigrante alemão, chegou ao Brasil após a Primeira Guerra. Casou com a também imigrante Ana Rehme. Em Maratá adquiriu dez alqueires de terra e uma serraria. Nas fichas de imposto cedular sobre a renda de imóveis, do ano de 1983, constava a propriedade de Colônia Maratá, a extensão de 240.000 metros quadrados em nome de Josef Konrad, residente no bairro do Brooklin, em Nova York. E o imposto vinha sendo pago há quatro anos pelo senhor José Rehme.
Charles Conrad foi batizado por frei Osmundo, capuchinho da Igreja Matriz de Porto União. No batistério, uma grande interrogação: na certidão do batistério do livro de registros foram arrancadas as folhas da letra C, referentes aos anos de 1928 e 1932. Não havia explicação para o sumiço do dia 2 de julho de 1929.
Erna tem registro civil em Porto União. Charles não foi registrado pelo pai no cartório civil. Segundo lembravam os parentes brasileiros, a atual grafia dos nomes teria uma explicação: Josef foi antes, em 1929. Com a chegada da mulher e filhos, nos EUA, Konrad resolveu que a família deveria se naturalizar. Assim aconteceu a mudança dos nomes. Josef Konrad passou a se chamar Joseph Conrad; Ana passou a se chamar Anne e o pequeno Charles teve o sobrenome Konrad mudado para Conrad e lhe acrescentaram um Junior ao nome.
Na localidade de Lança, a tia Elisabete ia abrindo os álbuns de família. Nas fotos de casamento de Charles, nos EUA, a semelhança entre o astronauta e o noivo era impressionante. Numa outra foto de 1966, Charles Conrad, a esposa e seus quatro filhos. Na foto oficial da Nasa, de 1969, também com os quatro filhos e esposa. A semelhança entre os quatro filhos já crescidos também causava espanto.
As cartas não mentem: das correspondências originais e seladas apresentadas por Elisabete Rehme, recebidas entre 1967 e 1968, todas provavam que foram enviadas de um só endereço, onde morava o cidadão Joseph Conrad: Torpon Springs, Flórida, Rout 1, Box 688 – 33589. Numa delas, de 1966, a revelação, escrita de próprio punho pelo pai do astronauta: "Charles agora é alto funcionário da Nasa".
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No próximo domingo, o desfecho: a reportagem de O Estado do Paraná repercutiu internacionalmente. Seriam dois Joseph Conrad na Flórida com mesmo endereço e mesmo telefone?
A Nasa, através da UPI, distribuiu em Washington o seguinte telegrama: "A biografia oficial do capitão-de-mar-e-guerra Charles Conrad não faz nenhuma referência à possibilidade de que ele tivesse nascido ou mesmo vivido algum tempo, quando criança, no Paraná".
