Nossos furacões

A palavra furacão tem origem no nome do deus Huracan. Segundo a mitologia maia, o deus Huracan se incumbia da constante tarefa de destruir e reconstruir a natureza e, por essa razão, foi associado às tormentas e tempestades. O Brasil não tem furacões como o Katrina ou este Wilma, mas nem precisa.

Nossos furacões são mais sofisticados, não desistem nunca e chegam de Land Rover, para melhor se locomover na lama. Femininos ou masculinos, não recebem nomes dentro de uma ordem alfabética mas têm a mesma fúria. Nesta última temporada de furacões brasileiros, o primeiro deles começou com a letra J, de Jefferson. Depois veio o furacão com a letra V, de Valério; a letra D de Delúbio; até chegar a este próximo, que aponta seu epicentro para o aeroporto de Brasília.

Especialistas ainda não chegaram a um acordo quanto ao nome: Hermes ou Mercúrio, é aquele deus da mitologia com asas nos pés, de tanto viajar. Grego ou romano, tanto faz, o que nos assombra é um furacão ?estratosférico?, na classificação do procurador-geral do Tribunal de Contas da União, Lucas Furtado. Numa escala de 1 a 5, este Hermes ou Mercúrio ultrapassa as medidas: R$ 1,045 bilhão foram os gastos do governo federal com diárias de viagens – desde o início do governo Lula. ?O número é estarrecedor?, afirmou o procurador, para quem é preciso ampliar o controle interno do governo para conter os abusos que vêm sendo detectados nos gastos da administração. Segundo ele, esse aumento nos gastos pode ter acontecido por desorganização ou por fraudes: ?É bem provável que seja uma mistura dos dois?, disse o procurador-geral do TCU.

As águas quentes do Lago Paranoá possuem as mesmas características naturais das tenebrosas águas do Golfo do México, fazendo com que todos os furacões brasileiros tenham origem em Brasília. O furacão Aftosa é o exemplo mais recente: devastou Eldorado, no Mato Grosso, ronda o Palácio Iguaçu, ameaça São Paulo, mas tem o seu epicentro em Brasília. Nasceu na gaveta do ministro Palocci, onde estava inativo por falta de condições naturais. Ou seja, enquanto o ministro tratava de mandar dinheiro para as vítimas do Katrina e engordar as tetas das vaquinhas do Texas, pagando a dívida externa, o furacão Aftosa decolava sob suas barbas.

Em Brasília, dia sim, dia não, nasce um outro furacão. Hoje é dia de sim: o furacão Gilberto apontou nas bandas da Granja do Torto e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde ontem já tratava de proteger as janelas do palácio, para o lamaçal não entrar em seu próprio gabinete. O furacão Gilberto pode não deixar pedra sobre pedra e é do tipo que corta a própria carne. A médium Adelaide Scritori, da Fundação Cobra Coral, alertou o presidente para evitar a acareação entre o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, e os irmãos do prefeito morto de Santo André Celso Daniel, marcada para hoje. O furacão Gilberto tem alto poder de destruição e pode quebrar não só as vidraças do palácio, como também espatifar a imagem e o andor dos devotos do presidente.

No Brasil, referendo é furacão. Pelo sim ou pelo não, pelo bem ou pelo mal, furacões desta natureza são ?do bem?. Que venham outros referendos, até furacões do tipo plebiscito: voto obrigatório, sim ou não? O comércio de vereadores, deputados e senadores deve ser proibido no Brasil? A compra e venda de juízes e bandeirinhas devem ser proibidas no Brasil? O caixa 2 deve ser legalizado, sim ou não?

O furacão Referendo já se foi, a poeira baixou. Mesmo sendo ?do bem?, a natureza não perdoa e no rastro do fenômeno algumas vítimas restaram: os atores e atrizes da Globo não serão mais convidados nem para apoiar campanha do agasalho.

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