Nome da chuva

A exemplo do Hemisfério Norte, aqui no Brasil Meridional devíamos dar nomes aos furacões, tornados, tormentas, inundações, enchentes, tempestades, trovoadas, chuvas em geral. Bem assim como se dá nome aos bois, precisamos dar nomes às chuvas.

A tradição de nomear os fenômenos climáticos, como se sabe, começou no século 19, quando um meteorologista australiano usou o nome dos políticos locais para classificar os furacões, como crítica ao comportamento imprevisível das tempestades e da política. Quanto à atual nomenclatura, foi na década de 1950 que começaram a batizar os furacões e, desde então, é a Organização Meteorológica Mundial (OMM), que dá nomes de mulheres aos furacões nascidos sobre o Atlântico Norte.

Organização Meteorológica de Curitiba (OMC), assim poderia se chamar o órgão encarregado de classificar e dar nomes aos fenômenos naturais que atormentam o Paraná, com destaque às inundações na capital do Paraná, como por exemplo o temido “Buraco da Velha”. Quando a gente antiga de Curitiba levanta os olhos para o céu do Parque Barigui e naquela nesga de hemisfério as nuvens escurecem, podem ter certeza que vem tempestade da grossa. É o tradicional “Buraco da Velha” que inunda os bairros, enche as vilas de lama e faz a prefeitura declarar calamidade pública.

Além da “Chuva da Velha”, Curitiba teme ainda a “Chuva do Greca”, inundação quer inspirou o ex-prefeito Rafael Greca a deixar uma frase para a história. Ao inspecionar os estragos causados pelos rios e riachos entupidos de pneus velhos, sofás e poltronas, geladeiras enferrujadas e armários, Greca subiu num barranco e, apontando o dedo para o povo em sua volta, ensinou: “Rio não caga!”.

Quando cai um pé d”água no centro da cidade e os subterrâneos de Curitiba mostram nossas mazelas, é a “Chuva do Arzua”, lembrança do corajoso ex-prefeito que, ao “enterrar dinheiro”, canalizou o Rio Ivo. “Chuva dos chorões” é o aguaceiro de final da tarde que transborda a esquina da Cruz Machado com Visconde de Nácar e deixa a cidade chorando por um táxi.

“Chuva de Merda” é o dilúvio nos bairros da periferia. Tributo ao jornalista Mussa José Assis que, no dia seguinte a uma calamitosa enchente, imprimiu no jornal “O Estado do Paraná” a manchete que deixou a cidade envergonhada de si mesma: “Curitiba joga merda na água que bebe!”.