De maneira geral, os debates políticos na televisão extrapolam no mau humor. Raras são as frases de espírito, as respostas de fina ironia, os momentos de bom humor. O que é pior, os candidatos encaram a si mesmos e aos adversários demasiadamente a sério. A frase é de Billy Wilder: ?Se há uma coisa que detesto, mais do que não ser levado a sério, é ser levado a sério demais?.
Pouca gente se dá conta, mas Curitiba tem duas Boca Maldita. E não uma, como o folclore e os folhetos turísticos reconhecem. A primeira é aquela oficialesca, de papel timbrado e passado em cartório, bajulativa, de medalhas e jantares.
A outra é a de fato. Maldita na acepção da palavra, galhofeira, bem-humorada. Inteligente. É a Boca Maldita de uma cena protagonizada pelo jornalista Luiz Geraldo Mazza.
Onze e meia da manhã de um sábado, a Boca Maldita era plena, quando o falecido comentarista esportivo Munir Caluf veio bater o ponto, passar a limpo as malignitudes da aldeia.
Nem bem o popular radialista abre uma vaga na roda, liderada pelo jornalista Adherbal Fortes de Sá Júnior, e eis que Luiz Geraldo Mazza interrompe uma momentosa fofoca para saudar aquele que chega:
– Munir, como está a audiência do teu novo programa esportivo ?Duas horas com Munir Caluf??
– Duas horas, não, Mazza! Dois minutos. Dois minutos com Munir Calluf!
– Você que pensa, Munir! Você que pensa!
***
Duas horas, é o que eles pensam: com tanta falta de espírito e bom humor, os debates se desenrolam numa eternidade. Neste primeiro confronto do primeiro turno entre Roberto Requião e Osmar Dias, o único momento de graça e descontração foi quando Osmar apresentou um cartão de visitas de Jaime Lerner, sugerindo que Requião procurasse diretamente o desafeto de estimação para resolver antigas pendengas mútuas.
Nesse aspecto, Roberto Requião entrou em desvantagem na noite de segunda-feira passada. Chegou acompanhado da família, citou a encíclica ?Rerum Novarum? do papa Leão XIII. Um santo homem, nem de longe lembrava aquele nosso conhecido John Wayne. Para a decepção dos que conhecem a intimidade de seu guarda-roupa, nem mesmo veio vestido com a casaca de Winston Churchill, o estadista espirituoso e irreverente – principalmente -, em quem Requião procura se inspirar na verve; com resultados muitas vezes além da tolerância dos circunstantes.
***
Num debate no parlamento inglês, uma deputada oposicionista, tipo Heloísa Helena, pediu um aparte. Todos sabiam que Churchill não gostava que interrompessem os seus discursos.
Apesar da contrariedade do primeiro-ministro, foi dada a palavra à deputada:
– Sr. ministro, se V. Excia. fosse o meu marido, colocaria veneno em seu café!
Churchill, com muita calma, tirou os óculos e, depois de saborear o silêncio de expectativa pela resposta, fulminou a tal Heloísa Helena:
– E se eu fosse o seu marido, tomaria esse café!
***
O dramaturgo Bernard Shaw enviou um telegrama a Winston Churchill:
– Tenho o prazer e a honra de convidar digno primeiro-ministro para primeira apresentação minha peça Pigmaleão. Venha e traga um amigo, se tiver.
A resposta de Winston para Bernard:
– Agradeço ilustre escritor honroso convite. Infelizmente não poderei comparecer primeira apresentação. Irei à segunda, se houver.
***
Haverá um segundo debate entre Roberto Requião e Osmar Dias. O último, porque outros – TVs Record, SBT, CNT e Paraná Educativa – foram rechaçados pelo desafiante Osmar Dias.
Para o derradeiro enfrentamento, além do papa Leão XIII na ?Rerum Novarum?, que vença o espírito de Otto Von Bismarck, por exemplo: ?As pessoas nunca mentem tanto quanto depois de uma caçada, durante uma guerra ou antes de uma eleição?.