Muito siso, pouco riso

De maneira geral, os debates políticos na televisão extrapolam no mau humor. Raras são as frases de espírito, as respostas de fina ironia, os momentos de bom humor. O que é pior, os candidatos encaram a si mesmos e aos adversários demasiadamente a sério. A frase é de Billy Wilder: ?Se há uma coisa que detesto, mais do que não ser levado a sério, é ser levado a sério demais?.

Pouca gente se dá conta, mas Curitiba tem duas Boca Maldita. E não uma, como o folclore e os folhetos turísticos reconhecem. A primeira é aquela oficialesca, de papel timbrado e passado em cartório, bajulativa, de medalhas e jantares.

A outra é a de fato. Maldita na acepção da palavra, galhofeira, bem-humorada. Inteligente. É a Boca Maldita de uma cena protagonizada pelo jornalista Luiz Geraldo Mazza.

Onze e meia da manhã de um sábado, a Boca Maldita era plena, quando o falecido comentarista esportivo Munir Caluf veio bater o ponto, passar a limpo as malignitudes da aldeia.

Nem bem o popular radialista abre uma vaga na roda, liderada pelo jornalista Adherbal Fortes de Sá Júnior, e eis que Luiz Geraldo Mazza interrompe uma momentosa fofoca para saudar aquele que chega:

– Munir, como está a audiência do teu novo programa esportivo ?Duas horas com Munir Caluf??

– Duas horas, não, Mazza! Dois minutos. Dois minutos com Munir Calluf!

– Você que pensa, Munir! Você que pensa!

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Duas horas, é o que eles pensam: com tanta falta de espírito e bom humor, os debates se desenrolam numa eternidade. Neste primeiro confronto do primeiro turno entre Roberto Requião e Osmar Dias, o único momento de graça e descontração foi quando Osmar apresentou um cartão de visitas de Jaime Lerner, sugerindo que Requião procurasse diretamente o desafeto de estimação para resolver antigas pendengas mútuas.

Nesse aspecto, Roberto Requião entrou em desvantagem na noite de segunda-feira passada. Chegou acompanhado da família, citou a encíclica ?Rerum Novarum? do papa Leão XIII. Um santo homem, nem de longe lembrava aquele nosso conhecido John Wayne. Para a decepção dos que conhecem a intimidade de seu guarda-roupa, nem mesmo veio vestido com a casaca de Winston Churchill, o estadista espirituoso e irreverente – principalmente -, em quem Requião procura se inspirar na verve; com resultados muitas vezes além da tolerância dos circunstantes.

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Num debate no parlamento inglês, uma deputada oposicionista, tipo Heloísa Helena, pediu um aparte. Todos sabiam que Churchill não gostava que interrompessem os seus discursos.

Apesar da contrariedade do primeiro-ministro, foi dada a palavra à deputada:

– Sr. ministro, se V. Excia. fosse o meu marido, colocaria veneno em seu café!

Churchill, com muita calma, tirou os óculos e, depois de saborear o silêncio de expectativa pela resposta, fulminou a tal Heloísa Helena:

– E se eu fosse o seu marido, tomaria esse café!

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O dramaturgo Bernard Shaw enviou um telegrama a Winston Churchill:

– Tenho o prazer e a honra de convidar digno primeiro-ministro para primeira apresentação minha peça Pigmaleão. Venha e traga um amigo, se tiver.

A resposta de Winston para Bernard:

– Agradeço ilustre escritor honroso convite. Infelizmente não poderei comparecer primeira apresentação. Irei à segunda, se houver.

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Haverá um segundo debate entre Roberto Requião e Osmar Dias. O último, porque outros – TVs Record, SBT, CNT e Paraná Educativa – foram rechaçados pelo desafiante Osmar Dias.

Para o derradeiro enfrentamento, além do papa Leão XIII na ?Rerum Novarum?, que vença o espírito de Otto Von Bismarck, por exemplo: ?As pessoas nunca mentem tanto quanto depois de uma caçada, durante uma guerra ou antes de uma eleição?.

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