Na sua obra fundamental para a história do Paraná, o professor e crítico Wilson Martins registra uma lista de compras no armazém escrita por um imigrante alemão de Curitiba: 5 tostón fum / 3 kitschen fósfor / 1 garrafón káscháss / 1 late kerosene / 2 par chinellen / 1 par tamanken für die Rosse / 3 meter brin für meine komadre Dona Chika / 3 flaschen gazoze / 10 vintin dôsse für mein Sohn João ein guten Fak.

continua após a publicidade

O jornalista e escritor Horácio Braum está reunindo num dicionário o linguajar das colônias alemãs no Brasil, especialmente os falares do Vale do Itajaí. Conta Horácio que, nos primórdios, os colonos falavam somente o alemão e depois, com o passar do tempo, assimilaram o português e mesclaram as duas línguas, para acabar naquilo que podemos chamar de ?Blumenauês?. O dicionário do Horácio foi compilado especialmente no Vale do Itajaí, mas também pode ser estendido às colônias alemãs do Paraná, onde ainda se troca o erre por ére, o s por z e o z por s, o f por v, o p por b e o t por d e vice-versa. E para entendermos um pouco desses falares, uma pequena amostra do ?Blumenauês?, justamente quando o sul do Brasil aguarda para as próximas festas de outubro brasileiros de todos os sotaques.

***

Au vaio: lamento de dor por ferimento ou por notícia ruim. / August: palavra utilizada para definir o arroto de uma criança. / Aibin: aipim. / Baraten vogel: junção de uma corruptela da palavra barata com ?vogel?, que em alemão quer dizer passarinho. / Bumbsi: corruptela de ?bums?, cair. / Bubi: nome carinhoso dado a toda criança descendente de alemães. / Bletziando: corruptela da palavra alemã ?blitz? que quer dizer relampeando.

continua após a publicidade

***

Chapa: além das significações normais tem mais três regionalismos: dentadura postiça. Ex.: O dentista disse que vais ter que colocar uma chapa na boca; radiografia. Ex.: O médico falou que vais ter que fazer uma chapa do pulmão; placa de carro. Ex.: Não deu para anotar a chapa do carro. / Chau-Chau: sair para passear. / Capinem: capinar. / Capí: grama. / Capeve ou capuvera: capoeira. / Camunheca: camionete. / Chatsi: namorada ou namorado.

continua após a publicidade

***

Écs: corruptela da palavra alemã ?eckig? que quer dizer nojo. / Fipsi: corruptela de ?fipsig?, pessoa magra, franzina. / Fuih: coisa nojenta. / Felá: corruptela da palavra alemã ?fülle?, que serve para designar o recheio de miúdos num marreco ou galinha assada. / Haia-haia: dormir. / Iacób: nome genérico dado a todos os papagaios, corruptela do nome próprio Jacob. / Ijbarrada: esbarrar, colidir. / Janele: janela. / Junho: júnior.

***

Missi ou misse: gato. / Móin: corruptela abreviada do alemão ?guten morgen?, que quer dizer bom dia. / Mondoví: amendoim. / Mópi: nome generalizado para cachorros sem raça. / Mégui: vaca. / Machucho: chuchu. / Nóida: nódoa, mancha. / Ócsa: boi (como forma pejorativa). / Ondi: onde. / Pics: injeção ou vacina. / Pubs: peido ou ?punzinho? infantil. / Pulle: mamadeira. / Putsi: criança querida, mimada. / Pips: define o órgão sexual masculino infantil ou de pequeno tamanho de um adulto. / Quili-quili: carinho em forma cócegas. / Rosse: roça.

***

Schimia: corruptela de ?schmiere?, qualquer coisa (geléia, musse ou até mesmo patê de lingüiça) para se passar no pão. / Schipcare: corruptela de ?schubkarren?, carrinho-de-mão. / Schlonsih: corruptela de ?schlunzig?, relaxado, desleixado. / Schneka: pão doce arredondado com salpique de farofa por cima. É uma corruptela da palavra alemã ?schneke?, que quer dizer caracol. A mesma expressão é usada para definir a parte sexual feminina. / Schnua: corruptela de ?schnur?, corda. / Sossa ou Sosse: corruptela da palavra francesa ?sauce?, molho de carne. / Sóte: sótão. / Surraxco: churrasco. / Tite: o mesmo que seio, mamica. / Tudinho: absolutamente tudo. / Vau-vau: cachorro. / Zô: pronto.