Curitiba, 312 anos

Do escritor João Marcassa? Para quem não se lembra, ele é autor do livro Curitiba, essa velha desconhecida. Os bem lembrados por certo acompanharam esta série de lembranças curitibanas, com o livro na memória. Editado em 1989, com a obra de 220 páginas já esgotada, sua reedição seria um belo presente que o prefeito Beto Richa poderia dar a Curitiba, nestes seus 312 anos. E, junto com ele, outros tantos livros dedicados à memória da cidade. Se neste aniversário ninguém lembrou do falecido João Marcassa, aqui fica minha sugestão para as comemorações dos 313 anos, prefeito Beto Richa: a reedição de um pacote de livros da memória curitibana. Melhor e mais barato que um show de Zezé di Camargo e Luciano; e a nossa juventude desmemoriada agradece.

Tio do empresário Sérgio Prosdócimo, João Marcassa só parou de trabalhar aos 67 anos, depois de 53 anos de serviço, e, ele mesmo conta no prefácio, "apesar de aposentado, senti-me útil e achei que deveria fazer algo para preencher o tempo". E achou.

Curitiba, essa velha desconhecida, na bela apresentação de Rafael Greca de Macedo, "é a crônica de lembranças amorosas sobre Curitiba". E na maneira e estilo do que vínhamos lembrando dessa ainda desconhecida capital do Paraná, Curitiba, você se lembra?

João Marcassa lembra: da Cervejaria Cruzeiro, fundada por Luiz Leitner, a primeira do ramo na cidade; da Cervejaria Providência, fundada em 1901 por Ernesto Bengston, cuja especialidade era a Cerveja preta de alta fermentação; da Cervejaria Pomona; da cervejaria Atlântica, mais tarde Cervejaria Brasileira, que fabricava as cervejas Astra Pilsen e Bock Bier, com a fotografia de bode no rótulo; da Cervejaria Adriática, de Ponta Grossa, dona na marca Original, surgindo depois a Cachorrinha (cerveja preta para o inverno); de quando as bebidas eram mantidas em geladeiras de madeira, revestidas na parte interna por zinco e com resfriamento feito por gelo, entregues diariamente em carros especiais; do açougueiro Estefano Vaine; da Casa da Manteiga, de José Debelli, primeiro estabelecimento no ramo de frios e mercadorias importadas; dos grandes doutores da Santa Casa de Misericórdia, Dr. Mário Braga de Abreu e Dr. Félix do Rego Almeida; de quando os funerais tinham classes: 1.ª classe: carro puxado por 4 cavalos brancos, com penachos pretos e cobertos com uma manta da mesma cor. O cocheiro com cartola e fraque pretos. 2.ª classe: carro puxado por 2 cavalos brancos, com penachos pretos cobertos com uma manta da mesma cor. O cocheiro, com cartola e sem fraque. 3.ª classe: carro puxado por 2 cavalos brancos, sem penachos e sem mantas. O cocheiro em traje comum. Para crianças o carro era branco; das sociedades operárias, onde a maioria de seus associados eram operários; da South Brazilian Railways, concessionária da luz e dos bondes elétricos que começaram a funcionar em 1913; de quando a companhia aumentava o preço da passagem em um tostão e o povo se rebelava, chegando a quebrar e incendiar os bondes; do Juca, primeiro motorista de ônibus de Curitiba, da linha Rua XV – Vicente; da Sombrinha de Ouro, de Salomão Kach, sem concorrentes nesta cidade úmida, principalmente no ramo de consertos; dos distintos cavalheiros que encomendavam suas fatiotas no Maximo Zenon, antigo jogador e árbitro de futebol, fundador do Partido Trabalhista do Paraná; de Luiza Bueno Gomm, primeira mulher a concluir o curso de piloto no Paraná, apesar dos preconceitos; do livreiro João Ghignone recebendo os escritores na porta da livraria; da Didi Caillet, miss Paraná que obteve o segundo lugar no concurso Miss Brasil, e no dia 17 de junho de 1929 trinta mil pessoas foram à estação ferroviária para recebê-la; dos engenhos e do denso perfume de erva-mate que era uma característica curitibana…

Até quarta-feira, com cordiais saudações a Sérgio Prosdócimo que, na lamentável ausência das entidades culturais públicas, junto à Refripar bancou a edição de 1989 da obra de João Marcassa.