Capital da Farinha

Para fins de calendário turístico, político e folclórico, Campo Largo é a Capital da Porcelana, Araucária a Capital do Pêssego, Contenda a Capital da Batata, Colombo a Capital da Uva, a legendária Lapa é a Capital do Bolinho de polvilho e dos Lacerda, Toledo a Capital do Porco no Rolete, Cianorte a Capital da Moda, Morretes a Capital do Barreado, Paranaguá a Capital dos Transgênicos, Ponta Grossa a Capital Cívica, Londrina a Capital do Café, Maringá a Capital da Seda, Campo Mourão a Capital do Carneiro no Buraco, Foz do Iguaçu a Capital do Samek, Antonina a Capital do Carnaval, São José dos Pinhais a Capital dos Aviões e Tibagi a Capital dos Mercer. Assim por diante, desde já com as devidas desculpas às outras não citadas.

Sob os auspícios do prefeito Élcio Berti, o Paraná acaba de ganhar uma nova capital:

– Bocaiúva do Sul, a Capital da Farinha.

Isso graças ao ilustre alcaide, autor de decreto proibindo homossexuais de fixar residência na cidade. Segundo a nova ordem, em Bocaiúva do Sul está proibida “a concessão de moradia e a permanência fixa de qualquer elemento ligado a esta classe (homossexuais) que não trará qualquer natureza de benefícios para este município”. Élcio Berti, muito macho, já avisou que não vai recuar (epa!) diante dos protestos, nem da ação de mandado de segurança que foi impetrada pelo Grupo Dignidade, no Fórum local. O expediente da Prefeitura chegou a ser encerrado, segundo o prefeito, porque houve ameaça de manifestações por parte de grupos de gays, lésbicas e simpatizantes.

Agora, pergunta o cidadão bocaiuvense: o que tem a ver farinha com pó-de-arroz, se não são do mesmo saco e Bocaiúva não produz nem uma coisa nem outra? Graças ao prefeito Élcio Berti, tudo a ver. Senão, vejamos.

Na Curitiba da década de setenta, gente fina freqüentava o Graciosa Country Club, ainda de bom tom. Mas, como gente fina também é da turma do funil, numa noite de fogos e festas, um então poderoso bam-bam-bam, mais pra fogos do que pra festas, arrumou um entrevero de botequim com um conhecido e respeitado jornalista curitibano. Entre outros impropérios, o bam-bam-bam acusou o colunista de (ó céus!) homossexual! Boiola! Bicha enrustida! Veado! Só não o acusou de gay porque a palavra então não vogava.

No dia seguinte, o ofendido contratou advogado e foi aos tribunais processar o bam-bam-bam por crime de injúria e difamação. Sim, testemunhas não faltaram ao também poderoso jornalista. Com uma conta bancária mais parecida com uma cornucópia, o endinheirado bam-bam-bam contratou um dos maiores advogados do Paraná, ainda hoje atuante e admirado criminalista. Para salvar a língua do cliente, o ilustre causídico preparou uma defesa, se não antológica, uma peça para constar nos anais (epa!) do folclore jurídico: solicitou um “teste da farinha” no injuriado jornalista. Data venia, no que consistiria esse “teste da farinha”, não vamos entrar em detalhes. Digamos que ao acusado (epa!) coube o ônus (epa!) da prova. Grosso modo (epa!), ao sexualmente suspeito caberia sentar numa superfície densamente enfarinhada. Estamos entendidos?

Assim ficaram também entendidas ambas as partes do litígio. A querela jurídica tomou rumos tão hilários, que deram então por findos os trâmites do processo e não se falou mais na sensível pendenga, nem mesmo em sociedade, onde tudo se sabe.

Portanto, cidadão bocaiuvense, não se surpreenda se o prefeito Élcio Berti e a procuradoria jurídica do município instituírem nos próximas horas o “teste da farinha”. Uma especial jurisprudência para residentes ou candidatos a residentes do município de Bocaiúva do Sul.

Se tal acontecer, vai faltar farinha na Capital da Farinha. E, se faltar farinha, o povo irá às ruas: “Araruta, araruta… #*”&##¿**##!!!”

Até domingo, resguardando-se o direito de não citar nomes.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna