Bolhas

Em alemão, bolha é ?die blase?. Nos pés de Ronaldinho, é uma ?vesícula ou empola na pele?. Para explicar o comportamento  de boa parte da imprensa brasileira na Alemanha, o que está escrito no dicionário Aurélio ganha sentido figurado: ?glóbulo de ar, vapor ou gás que se forma nos líquidos quando agitados em ebulição ou em estado de fermentação?, ou seja: um vazio, uma miragem, a falta de conteúdo, uma falsa expectativa.

Bolha também pode ter o sentido de ?factóide?, isso para entender a desmesurada preocupação da imprensa esportiva com as cinco ?empolas? no pé do fenômeno – cada uma das bolhas pesando cinco quilos, presume-se. No hotel onde está hospedado o nosso ?dream team?, perguntam ao ?fenômeno? como ele está se sentindo, com tantas bolhas nas manchetes dos jornais. Ronaldinho gordo responde em alemão:

* Aftas ardem, pés dóem!

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Na gíria, bolha é uma pessoa ?amolante, enfadonha, boiota, chata?. Um ?bolhoso?, dizem os incorrigíveis patrioteiros de chuteiras, quando se referem aos céticos que vêem a seleção com pé empolado atrás.

O jornalista Juca Kfouri é um deles, este bolha: ?Eu vou ter a melhor surpresa da minha carreira se cobrir essa Copa e voltar com o Brasil hexacampeão. O negócio do futebol não se interessa por mais uma conquista do Brasil, fica monótono?.

O jornalista Roberto Assaf, é outro bolha: ?Eu também acho que vai ser muito difícil ganhar. Não pelo material humano que a seleção tem, mas por todas essas circunstâncias que cercam?.

Bolhudo também o cronista Arthur Dapieve: ?O Brasil não vai ganhar a Copa. Repito todo dia, várias vezes, como um mantra?. Um bolha, Dapieve se prepara para o pior, se antecipa à dor, dando o exemplo dos japoneses: ?O Japão ataca velozmente desde Porto Arthur (1904) e Pearl Harbor (1941). Protejam nossos encouraçados! Além disso, seu técnico, o grande Zico, nunca foi de dar alegrias ao Brasil, só à nação rubro-negra?. Dapieve encerrou sua crônica de ontem em O Globo com um verso do poeta bolha: ?Ó vida, ó dor. Isso não vai dar certo?.

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No aguardo da bola rolar, os jornalistas brasileiros já não sabem mais o que fazer. Alguns colhem moranguinhos nos campos, outros passam o tempo catando bolhas, a maioria passa o tempo enchendo salsichas.

Quanto aos torcedores brasileiros, no aguardo dos argentinos, os bolhas pelejam entre si. O último entrevero teria acontecido em Berlim, e passo adiante assim como recebi.

Um carioca, um paulista, um mineiro, um baiano e um catarinense estavam tomando cerveja e comendo chucrute, quando iniciam uma discussão acerca de qual seria o melhor estado do Brasil.

O carioca saiu na frente:

* Não há dúvida, o Rio é o que há de melhor: tem a cidade mais bela do mundo, o povo mais alegre, muito sol, futebol, Carnaval e as mulheres mais quentes do Brasil, e tem o Garotinho!

O paulista, engasgado com o linguição e pela dianteira do carioca, disse:

* Não tenho a menor dúvida que é São Paulo, a usina que movimenta o Brasil. Tem a maior metrópole da América Latina, o povo mais trabalhador, mais rico, e tem o Lula!

O mineiro rebateu:

* É Minas, uai! Não tem praia, mas tá perto. Tem a melhor culinária, a melhor cachaça, e também tem Itamar Franco, sô!

O baiano entrou na roda dos bambas:

* O melhor mesmo é a Bahia: tem Carnaval, tem frevo, tem o acarajé, tem Salvador, e tem o ACM.

Como o catarinense não se manifestava, eles perguntaram:

* E aí, catarina? Por que tão quieto, qual é a tua opinião?

O catarina deu mais um gole na cerveja e, finalmente, respondeu:

* Pra mim, o Paraná é a coisa mais querida! É o melhor estado, viste?

* Larga de modéstia, catarina: não vai defender o teu estado? Por que o Paraná?

* Lhó-lhó-lhó – arrematou o manezinho – Porque é o Paraná que separa Santa Catarina de todo esse atraso aí de cima, ô!

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