Bola e Carambola

Na madrugada de segunda-feira, um incêndio destruiu a casa noturna Carambola. Entre nenhum morto, nenhum ferido e um prejuízo além de 500 mil reais, registrou-se também a felicidade geral dos moradores da região da Água Verde, comemorando o sinistro. A vizinhança aplaudiu o fogaréu e só não pediu bis porque a boate mais próxima estava pra lá de longe. No dia seguinte, o escritor e publicitário Ernani Buchmann comentou o desastre numa entrevista e aproveitou para exemplificar a festa dos vizinhos do Carambola como uma das características da ausência de senso de humor dos curitibanos: “Não há ironia no curitibano. Não tiram sarro de nada, só reclamam!”.

Como ex-presidente do Paraná Clube, Ernani Buchmann talvez não tenha prestado atenção no povo do Atlético Paranaense. Caso contrário, teria dado boas gargalhadas com piadas da mais fina ironia que circularam na cidade, tendo por mote o incêndio do Carambola. Se os vizinhos da boate comemoravam, enfim, o sossego e a segurança, a galera atleticana comemorava, enfim, uma nova fase para o time. Tanto, que o assunto desta segunda-feira não foi o baile que os gremistas levaram na Arena:

– Agora, sim! Ninguém mais segura o Atlético!

– O time engrenou?

– Não, pegou fogo no Carambola!

No site da torcida organizada Os Fanáticos, manhã de segunda-feira, a manchete não era sobre os dois a zero nos gaúchos. Era sobre o sinistro:

– Fogo no Carambola, agora explode o Furacão!

CASA DE BAMBA

Pra quem está chegando no transcorrer da partida, convém contar da história e das lendas do Carambola, que nasceu com o nome de Chocolate Chic. Situada dentro da jurisdição da Arena da Baixada – Água Verde, na Avenida Getúlio Vargas, esquina com a Rua Cândido Xavier -, era a maior casa noturna de Curitiba, uma das maiores do Brasil, considerando-se o anexo chamado El Toro, uma boate para o público sertanejo. Com a bilheteria funcionando de segunda a domingo, era nos embalos dos jogos do Atlético que o Carambola conhecia suas noites de glória, na vitória ou na derrota. Na derrota, o time ia chorar pitangas. Na vitória, champanha de cidra pra galera e da mais fina uva até para a diretoria. Para manter o jargão frutífero, daí vinha o abacaxi que tantos técnicos já derrubou: conta a lenda que o time campeão brasileiro passou a treinar no CT do Caju, jogar na Arena e suar a camisa no Carambola, e apenas no Carambola, para desespero da torcida masculina.

O AMOR É LINDO

Quanto à torcida feminina, nunca teve do que reclamar: o Carambola era o endereço dos craques. Lá, nossas lindas polaquinhas e moreninhas iam em busca de um autógrafo, de um número de celular, de um beijo roubado, de um abraço apertado e de um amor sem fim. De preferência que o fim da partida terminasse, não com um juiz da federação, mas, sim!, com um juiz de paz. Véu, grinalda e padre, na seqüência. Se possível com festa no Curitibano e lua-de-mel nas cinco estrelas do Hotel Rayon. Em suma, exatamente a história de uma polaquinha curitibana, hoje esposa do craque Kléberson: foi na balada do Carambola onde tudo começou e que seja eterno enquanto dure.

NO CALOR DA NOITE

Na noite de ontem, Ernani Buchmann, junto com o cartunista Solda, lançou o livro de crônicas Onde me doem os ossos, justamente falando dos humores curitibanos. A noite de autógrafos foi no Beto Batata. Podia ter sido no Carambola, se hoje o endereço de bambas não fosse apenas cinzas e se o autor precisasse de inspiração para um outro livro, com um outro nome, ligeiramente adaptado: “Carambola, onde não me doem os ossos”.

Até sexta-feira, torcida atleticana!

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