Na noite de Réveillon, comuns criaturas costumam colher flores brancas, adentrar ao mar, pular sete ondas e entregar oferendas a Iemanjá. Poucos, e muito poucos, têm o privilégio de receber a visita da rainha das águas, a mãe de todos os orixás.
O advogado Marcus Coelho é um eleito da fortuna. Comemorou a virada do ano na companhia de Iemanjá. A rainha vestida de branco, descalça e espelhando a alegria de um novo ano que acabava de nascer. A rainha do mar varou enseadas, golfos e baías, passou ao largo de mares bravios para dançar na varanda do ex-presidente campeão brasileiro do Atlético Paranaense.
Iemanjá é uma deusa que sintetiza a raça brasileira -europeus, ameríndios, africanos -, e que neste abençoado verão reinou em nossa orla disfarçada de deusa das passarelas – ou seja, Gisele Bündchen, a rainha que dançou descalça na varanda de Marcus Coelho.
Não é uma história qualquer e a visita também. Em férias de estrelato, Gisele Bündchen veio aprimorar o bronzeado em Santa Catarina, na praia particular do tenista Gustavo Kuerten, no Recanto das Marés, um condomínio de luxo localizado ao largo de Florianópolis. Ali, a deusa se transformou na Iemanjá do Atlântico Sul e singrou os sete mares a bordo do iate da família Kuerten.
Foram férias de cinema.
O enredo se afasta da vida marinha e avança até o norte da ilha de Floripa, a um apartamento na praia de Jurerê. Um edifício de dois apartamentos por andar, com duas generosas varandas contíguas debruçadas na paisagem do mar.
Aposentados, ali habitam há pouco tempo os pais de Marcus Coelho, dona Cida e Jayme Coelho. De repente, o patriarca escorrega e bate a cabeça numa borda, sangrando bastante. Os vizinhos do apartamento ao lado correm acudir.
Minutos depois, ainda em Curitiba, o filho Marcus tranqüilizou-se: foram apenas oito pontos e, com o acidente doméstico, travou-se então uma amizade mais próxima entre os vizinhos de varanda: Jayme Coelho e Jairo Bottcher – pai de Letícia, a namorada de Guga Kuerten.
Dias depois, na manhã de 31 de dezembro, Jairo Bottcher visita a família Coelho e encontra Marcus Coelho e sua Desirée na cozinha, ele temperando um leitãozinho à pururuca. O sogro do Guga não resiste ao apelo do pecorino – o ex-presidente rubro-negro é exímio cozinheiro – e intima a família Coelho a somar ceias de Ano Novo, todos na mesma varanda, embaixo do mesmo céu onde o foguetório já se aprontava.
Na verdade, o convite era um ardil do vizinho. Proibido que estava de degustar aquele colesterol à pururuca, Jairo Bottcher tencionava mesmo era trazer o fruto proibido ao alcance de seu próprio garfo.
Enquanto o leitãozinho era destrinchado, por volta da meia-noite Iemanjá saía da exclusiva toca. Atravessou o mar e foi roubar a cena de réveillon no bar Taikô, em Jurerê. Gisele Bündchen chegou toda de branco e, mesmo descalça, a rainha das águas virou de pernas para o ar a festa, com seu séquito de princesas. Levada a um camarote fechado, foi preciso uma dezena de seguranças para segurar o povo desvairado.
Nas profundezas dos mares, ou na superfície das águas, tudo é conduzido pela mão suprema de Iemanjá.
O inesperado faz uma surpresa. Rolava champanhe na varanda das famílias Coelho e Bottcher, quando um arauto da deusa veio anunciar a boa-nova: Gisele Bündchen eis que chegava. Cansada do assédio, a corte queria a paz de uma varanda, a folia entre os fraternos, o acolhedor champanhe, um leitãozinho à pururuca, quem sabe?
Letícia Bottcher e Gustavo Kuerten chegaram antes. Depois, a entrada retumbante de Iemanjá e sua corte. Livre, leve e solta, Gisele Bündchen dançou até o sol raiar, quando a deusa se retirou à toca, feita uma esplêndida garoupa.
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As famílias Coelho e Bottcher fizeram as honras da casa e quem apresentou Marcus Coelho a Iemanjá foi dona Cida: "Filho, essa é a Gise! Gise, esse é o Marcus, campeão brasileiro do rubro-negro Atlético Paranaense!". Gisele Bündchen concedeu um beijo ao afortunado, e mandou um outro a Lothar Matthäus.