Na quinta-feira passada o Brasil perdeu um dos seus mais respeitados e estimados cientistas, o paranaense Metry Bacila. Poucos ficaram sabendo o que perdemos, pois compreensivelmente dentro em breve até um craque de beisebol vai ter mais admiradores no Brasil do que um cientista.

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Nascido em Palmeira em 1922, Metry Bacila estudou medicina na então Universidade Federal do Paraná e, após defender sua tese de doutorado, foi para Argentina estagiar com o destacado bioquímico Luis Federico Leloir, que mais tarde receberia um Prêmio Nobel – como lembrou ontem em artigo na Gazeta do Povo a doutora Clotilde Branco Germiniani.

Ainda jovem, iniciou suas atividades no Instituto de Biologia e Pesquisas Tecnológicas do Paraná e, depois de alguns anos como catedrático na Universidade de São Paulo (USP), organizou e levou para Pontal do Sul o Centro de Biologia Marinha. Em seguida, com o Centro equipado e vinculado ao Ministério da Marinha, integrou-se ao Projeto Antártico Brasileiro e lá na Base Comandante Ferraz, que recentemente pegou fogo, passou algumas temporadas de pesquisa.

Membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Paranaense de Letras, Metry Bacila era um cientista de reconhecimento internacional. Mais que isso, era um mágico na sala de aula. Sabia como encantar os jovens, mostrando que a pesquisa científica também era uma grande aventura.

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Poeta, cientista e filósofo, o alemão Johann Wolfgang von Goethe dizia que em qualquer lugar “só se aprende com quem se gosta”. Nesta quarta-feira, no café da manhã mensal da Academia Paranaense de Letras, o acadêmico Leo de Almeida Neves recordou de seus tempos de colégio para mostrar o quanto Goethe tinha razão, e quanto Metry era estimado.

Em 1949, o Colégio Estadual do Paraná tinha no seu primeiro ano do Clássico (depois do ginásio, antigamente tínhamos o Clássico e o Científico) apenas seis alunos. Quatro homens e duas mulheres, todos justamente frequentando os três anos de Clássico direcionados para a faculdade de Direito.

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Por exigência de currículo, a classe foi apresentada aos átomos e moléculas por um simpático professor chamado Metry Bacila. Foi paixão à primeira vista. As aulas se tornaram tão atraentes, até emocionantes, que os seis alunos terminaram o Clássico com nota 10 em Química.

Fungos e bactérias conquistaram corações e mentes. Os seis discípulos quase viraram a casa, entre eles o futuro deputado federal Leo de Almeida Neves, enquanto a aluna Ílbia Jansen de Mello não resistiu à magia do professor Bacila e se formou em Medicina.