O Inimigo de Saramago

Saramago, morto em 2010, nunca foi um homem de meias palavras. Mais que suas posições política e religiosa, o escritor português criou um mundo à parte. O escritor, que completaria 90 anos no próximo dia 16, nunca precisou se render a nada, inclusive, colecionou inimigos, entre eles o maior escritor português vivo: António Lobo Antunes.

As anedotas da briga dos dois são inúmeras e mobiliza turbas de admiradores de ambos que, em 1995, foram responsáveis pelo encontro de escritores luso-brasileiros na Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento (FLAD). Obviamente, a rixa não chega aos pés do imbróglio entre os nobéis Vargas Llosa e García Márquez, caso que movimentou o mundo literário e acabou com uma amizade de longa data. (O peruano descobriu que o amigo colombiano possuía uma relação muito próxima com a sua mulher.)

No Brasil Saramago é disparado mais conhecido e festejado que seu conterrâneo, porém, na Terrinha, os dois rivalizam com certa maestria, embora o já falecido tenha a vantagem de ter recebido o Nobel em 1998. Lobo Antunes, conhecido por ser mais prolixo que o inimigo – chegando a criar parágrafos soltos que se conectam outros trechos do livro páginas adiante -, sempre viu a escrita como um feito laborioso e trabalha suas frases como se lapida um diamante, extraindo somente o que for puro. A precisão cirúrgica de suas frases vem de sua profissão de formação: a medicina.

Isso deixa claro que para ele o leitor vem em quadragésimo plano. Não se admira em nada que ele tenha declarado: “Os leitores são umas putas. Amam-nos e depois deixam-nos”.