“É lamentável que tenha gente com visão mítica da ditadura”, diz historiadora

A antropóloga Lilia Moritz Schwarcz e a historiadora Heloisa Murgel Starling , autoras do livro Brasil: uma biografia, estiveram em Curitiba na semana passada para participar do festival Litercultura e conversaram com a Contracapa sobre o atual momento político e as heranças que compõem esse cenário.

O livro trata o Brasil como um personagem, abordagem que permite enxergar o caráter humano por trás das transformações que tornaram país o que ele é hoje. Segundo Schwarcz, muito do que vemos acontecer desde 2013 é uma repetição do que já foi presenciado no começo da década de 1990, quando o ex-presidente Fernando Collor sofreu o impeachment, mas com ‘pitadas’ de ineditismo.

Heloisa Murgel Starling vê o dualismo brasileiro como fator preponderante para a divisão pela qual o Brasil está passando – e que se tornou visível nas urnas nas últimas eleições presidenciais. “O Brasil é uma coisa e outra: é insurgente e violento, racista e libertário”, explicou. Ainda assim, o Brasil consegue ter uma postura democrática, já que “existe igualdade na diferença”.

Durante a corrida pelo Planalto em 2014 as redes sociais se transformaram em praças de guerras divididas entre ‘dilmistas’ e ‘aecistas’. Naqueles meses não foram poucas as amizades rompidas por diferenças na visão política.

Anos de chumbo

Para as pesquisadoras, o maior trunfo do Brasil é agregar várias vertentes do pensamento intelectual e aí incluem-se também aqueles que ainda saúda o golpe militar de 1964. Permitir a  coexistência de diferentes grupos é um exercício democrático. “Mas é lamentável que ainda tenha gente que tem a visão mítica da ditadura”, pondera Starling.

“Muitas vezes as pessoas precisam saber um pouco mais de história, porque o que não vale é ir para a rua desinformado”, pontua Lilia Moritz Schwarcz, que vê a palavra impeachment como uma moda que ora assola as manifestações, ora desaparece da agenda dos protestos.

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