As porta-vozes da vagina

Fenômeno editorial no mercado estrangeiro, o livro Vagina: uma biografia, de Naomi Wolf, chegou há pouco ao Brasil e já começou a levantar o debate sobre o feminismo na literatura. O assunto foi tratado de duas formas: como polêmica e novidade. Nos EUA, o livro chegou a ter seu título censurado; no Brasil, as livrarias não souberam classificá-lo.

Mas a questão da “novidade” é um tanto ultrapassada. A escritora britânica Virginia Wolf (1882 – 1941) já levantava a bandeira do feminismo há tempos. A produção da autora sobre o tema pode ser encontrada na compilação Profissões para mulheres e outros artigos feministas. Na obra, ela deixa claro que, em sua época, a mulher não podia demonstrar que possuía opinião própria.

Ora, a mulher deveria ser tudo, menos independente. Essa “dependência seria motivo de fúria para Simone De Beauvoir (1908 – 1986), mulher que nunca se deixou controlar e ditava as regras de sua relação com Jean-Paul Sartre (1905 – 1980). Algumas obras relevantes sobre o tema são A mulher independente e O segundo sexo.

Não podemos nos esquecer de SCUM manifesto, de Valeria Solanas, a mulher que atirou no pintor Andy Warhol, em 1968. Muito mais radical do que qualquer outra obra, o livro propunha a extinção do sexo masculino e a criação de uma sociedade feminina. Para ela, mais do que seguras de si, as mulheres deveriam se transformar em dominadoras.

Bem menos ambiciosa, Clarice Lispector também falou de perto com as mulheres. A escritora, conhecida por seus textos profundos, mantinha a coluna Correio feminino no jornal Correio da Manhã, que assinava como Tereza Quadros, na qual dava dicas às mulheres. Os textos foram escritos em uma fase em que Clarice escrevia para sobreviver, ou seja, aquelas palavras não eram a sua opinião e sim a de Tereza.

O tema do feminismo é constante na literatura e se tornou uma importante arma contra a opressão de um mundo machista. No entanto, classificar a obra de Naomi Wolf como puramente literária beira a estranheza, já que ela se aproveita da efervescência e faz um resgate social da presença da mulher no mundo.