Mesmo diante das sempre recorrentes previsões de desgaste, o terror segue demonstrando uma vitalidade singular dentro do cinema contemporâneo. Longe de se repetir, o gênero continua a se reinventar – atualizando mitos, incorporando debates sociais, explorando novas linguagens visuais e expandindo seus limites temáticos. Em 2025, essa força criativa se manifestou de maneiras particularmente diversas: da ousada releitura do conto de fadas em A Meia-Irmã Feia, que transformou padrões estéticos em body horror, à fusão precisa entre música, cultura afro-americana e sobrenatural em Pecadores, talvez o filme mais contundente do ano.
Obras como A Hora do Mal reforçam a potência das alegorias contemporâneas, usando desaparecimentos e paranoia como espelhos de um país fragmentado, enquanto Faça Ela Voltar revisita o horror doméstico com uma sensibilidade dolorosa, explorando luto, manipulação e obsessões que se confundem com afeto. Juntas, essas produções mostram que o gênero permanece entre os mais inventivos do cinema, capaz de dialogar com questões atuais sem abrir mão do impacto sensorial que o define.
A lista abaixo reúne 20 filmes desse período, apresentados em ordem decrescente, a partir de sua força narrativa, ousadia e permanência emocional – obras que confirmam que o terror, longe de qualquer declínio, vive um de seus momentos mais criativos.
Como toda lista que se preze, ela é subjetiva e absolutamente pessoal, ou seja, você pode não concordar com mais da metade dela. E está tudo bem com isso.
20. MANÍACO DO CONTROLE
Valerie, uma coach de autocontrole, vê sua vida desmoronar enquanto uma ferida bizarra na cabeça cresce e desperta traumas que ela tentou ignorar. O filme mistura terror psicológico, folk horror e body horror, levando o espectador para uma espiral de paranoia muito bem construída. Kelly Marie Tran segura o filme com uma atuação intensa, oscilando entre medo, raiva e fragilidade. Quando o terror corporal assume o comando, o filme realmente decola. Não é revolucionário, mas deixa uma marca incômoda e muito bem-vinda.
Onde assistir: Disney+
19. M3GAN 2.0
M3GAN retorna totalmente reinventada, agora como uma espécie de agente secreta enfrentando uma IA rival chamada Amelia. A mudança de gênero – do terror cibernético para um quase filme de ação oitentista – pode ter espantado parte do público, mas é justamente o que torna o filme divertido. Visual exagerado, cores vibrantes e humor assumido deixam tudo mais leve. M3GAN 2.0 abraça o absurdo sem medo e não tenta parecer mais profundo do que é. Uma aposta arriscada, mas cheia de personalidade, que merecia melhor sorte.
Onde assistir: disponível para aluguel.

18. ANIMAIS PERIGOSOS
O filme mistura serial killers e ataques de tubarão de um jeito improvável, mas surpreendentemente competente. Tucker é um assassino que grava e entrega suas vítimas aos tubarões, enquanto a jovem Zephyr cai em seu barco e transforma tudo em um jogo claustrofóbico de sobrevivência. O título vai além dos bichos: o verdadeiro animal perigoso é o psicopata humano. Zephyr, porém, responde com instinto e força, virando uma final girl das mais resilientes. Mesmo com um terceiro ato conveniente, o filme é tenso, estranho e inesperadamente interessante.
Onde assistir: disponível para aluguel
17. EXTERMÍNIO: A EVOLUÇÃO
Danny Boyle e Alex Garland revisitam o universo dos infectados 28 anos depois de seu filme de estreia, numa Inglaterra isolada e paranoica. O jovem Spike parte para uma jornada brutal em busca de cura para a mãe e encontra o médico vivido por Ralph Fiennes, um Coronel Kurtz pós-apocalíptico cheio de nuances. O filme fala mais sobre medo, Brexit e amadurecimento do que sobre zumbis. A melancolia domina cada quadro, sempre carregada de desesperança. E a provocação final vira tudo de cabeça para baixo, quase zombando das expectativas do gênero.
Onde assistir: HBO Max

16. THE SURRENDER – A ENTREGA
Um terror sobre o luto, não sobre monstros. Colby Minifie volta à casa da família para lidar com o pai moribundo, enquanto a mãe acredita num ritual capaz de trazê-lo de volta. Com clima lovecraftiano e fotografia sombria, o filme mistura criaturas e rituais com questões emocionais profundas. A melancolia é constante, discutindo cuidados paliativos e a dificuldade de aceitar o fim. O duelo entre mãe e filha sustenta o drama. Um terror silencioso, triste e muito humano.
Onde assistir: ainda sem previsão
15. O PALHAÇO NO MILHARAL
Um palhaço assassino volta a matar 35 anos após um crime no milharal, e uma nova adolescente vira o centro do massacre. O filme abraça todos os clichês do slasher com consciência e sem vergonha – gore caprichado, exagero e diversão garantida. A revelação do assassino lembra um certo filme do Edgar Wright e ainda acerta numa crítica sobre choque de gerações. Não reinventa nada, mas entrega exatamente o que promete. Um slasher divertido, ensanguentado e sem pretensão de ser mais do que isso.
Onde assistir: disponível para aluguel

14. THE TOXIC AVENGER – O VINGADOR TÓXICO
O remake abraça o espírito trash do original dos anos 1980 da produtora Troma com gosto, transformando cada cena em um festival de gore e humor grotesco. Winston (Peter Dinklage) cai num lago tóxico e renasce como o Vingador Tóxico, esmagando canalhas corporativos com criatividade sangrenta. Kevin Bacon brilha como CEO escroto, e Elijah Wood surge deformado como um Pinguim punk. O filme é barulhento, exagerado e deliciosamente sem sutileza. Mantém a alma B do original e prova que, às vezes, o mau gosto é exatamente o ponto.
Onde assistir: ainda sem previsão
13. STRANGE HARVEST
Stuart Ortiz usa o formato de mockumentary para simular um true crime perturbador sobre um serial killer que volta 20 anos após seu último crime. Entrevistas e reconstituições realistas criam um desconforto crescente, como se estivéssemos vendo algo que poderia ter acontecido. O filme equilibra a frieza documental com suspense e pequenas incursões no sobrenatural. Há ecos de Se7en e O Silêncio dos Inocentes no retrato do mal como algo quase inexplicável. Um terror silencioso e convincente, que transforma o espectador em cúmplice.
Onde assistir: ainda sem previsão
12. V/H/S HALLOWEEN
A antologia retorna em alta forma, com segmentos sólidos que capturam o espírito do Halloween sem cair no óbvio. O fio condutor – um refrigerante demoníaco – brinca com Halloween III e abre espaço para histórias de deep web, rituais, crimes reencenados e bizarrices deliciosamente grotescas. O episódio dos adolescentes desaparecidos é um dos mais perturbadores de toda a franquia. Há humor, violência e criatividade de sobra. Depois de 15 anos, V/H/S segue mais vivo – e assustador – do que nunca.
Onde assistir: Prime Video

11. HALLOW ROAD – CAMINHO SEM VOLTA
Um casal atravessa a madrugada em busca da filha, que liga desesperada dizendo ter atropelado alguém. O filme inteiro se passa dentro do carro e no celular, transformando o espaço minúsculo em uma panela de pressão emocional. Rosamund Pike e Matthew Rhys carregam a narrativa com olhares tensos e vozes trêmulas. A cada nova ligação, detalhes do acidente e da família se revelam, mexendo em culpa e arrependimentos. Hallow Road toma rumos mais estranhos do que parece, e quanto menos se souber, melhor.
Onde assistir: ainda sem previsão
10. PREMONIÇÃO 6: LAÇOS DE SANGUE
A franquia retorna após 15 anos com nostalgia, mortes inventivas e um toque novo: a perseguição da Morte focada em uma única família. A abertura, retrô-futurista, já entrega o clima e prepara o terreno para algumas das mortes mais divertidas da série – destaque para o cortador de grama e a ressonância magnética. Tony Todd, fragilizado e pouco antes de sua morte, adiciona uma melancolia inesperada. A trama é simples, mas eficiente, e o suspense funciona até o final. Não é o melhor da franquia, mas é um retorno sólido, divertido e criativo.
Onde assistir: HBO Max

9. DROP: AMEAÇA ANÔNIMA
Christopher Landon assume um tom mais seco e hitchcockiano ao acompanhar Violet, uma jovem mãe que vai a um encontro de aplicativo e passa a receber mensagens anônimas ameaçando sua família. Para protegê-los, ela precisa obedecer a instruções crescentemente sombrias – incluindo matar o homem com quem está jantando. O filme trabalha a tensão pela perspectiva única da protagonista, criando um clima claustrofóbico e nervoso. Pequenas conveniências narrativas não prejudicam o impacto geral. Landon demonstra controle, maturidade e habilidade em conduzir suspense psicológico. Uma surpresa incisiva, construída com precisão e ritmo.
Onde assistir: Prime Video
8. A LONGA MARCHA
Francis Lawrence adapta Stephen King num filme exaustivo e brutal, sobre jovens obrigados a caminhar até a morte numa competição de um regime autoritário. Mark Hamill encarna a frieza do Estado, observando a degradação como se fosse rotina. Cooper Hoffman e David Jonsson formam o núcleo emocional entre vingança, desespero e tentativa de conservar a própria humanidade. A paisagem se torna tão opressiva quanto o sistema. Difícil, doloroso e necessário – porque aqui, toda vitória é só outra forma de derrota.
Onde assistir: disponível para aluguel

7. JUNTOS
Um casal estagnado encontra uma fonte misteriosa em uma caverna e começa a se fundir fisicamente, transformando intimidade em prisão. O filme abraça o body horror com efeitos práticos que evocam Cronenberg, Society e O Enigma de Outro Mundo. A metáfora é clara: eles não sabem mais ser dois, apenas coexistir por hábito. Alison Brie e Dave Franco entregam expressões cansadas e silêncios incômodos que dizem mais do que os diálogos. Um terror íntimo, incômodo e dolorosamente reconhecível.
Onde assistir: disponível para aluguel

6. ACOMPANHANTE PERFEITA
Uma mistura afiada de sci-fi, terror cibernético e drama psicológico, Acompanhante Perfeita funciona melhor quanto menos você souber antes de apertar o play. A trama acompanha Iris, vivida pela excelente Sophie Thatcher, que passa um fim de semana entre amigos e descobre que nada ali é o que parece. O filme brinca com identidade, memória e tecnologia sem virar tese, e acerta até quando usa clichês. Uma das surpresas mais divertidas e intrigantes do ano.
Onde assistir: HBO Max

5. FRANKENSTEIN
Guillermo del Toro revisita o clássico de Mary Shelley com sua marca gótica e profundamente humana. Victor Frankenstein, interpretado por Oscar Isaac, busca vencer a morte sem se preocupar com as consequências de seus atos. A criatura, vivida com fragilidade trágica por Jacob Elordi, torna-se um espelho de rejeição e desejo de afeto. A segunda metade, narrada do ponto de vista da criatura, concentra o coração emocional do filme. A direção de arte é exuberante, entre laboratórios iluminados por relâmpagos e castelos envoltos em névoa. Mia Goth faz a ponte entre os dois mundos, reconhecendo humanidade onde ninguém mais vê. Del Toro entrega aqui um de seus trabalhos mais íntimos.
Onde assistir: Netflix

4. FAÇA ELA VOLTAR
Os irmãos Philippou entregam um terror pesado sobre luto, culpa e obsessão. Dois irmãos vão para uma casa de passagem após a morte do pai e encontram uma cuidadora (Sally Hawkins, aterradora) disposta a tudo para trazer sua filha morta de volta. A narrativa manipula percepções, misturando sobrenatural e psicológico com precisão cruel. O clima é de slow burn sufocante, culminando num terceiro ato brutal. Um terror sombrio, adulto e devastador.
Onde assistir: HBO Max

3. A MEIA-IRMÃ FEIA
A releitura norueguesa de Cinderela coloca a irmã feia no centro e transforma o conto em puro body horror. Elvira, vivida por Lea Myren, é moldada – literalmente – para conquistar um príncipe misógino e manter viva a fantasia de nobreza decadente de sua mãe. Cirurgias, procedimentos estéticos e transformações grotescas surgem como metáfora para padrões inalcançáveis. A fotografia luxuosa contrasta com a decadência moral do castelo e de seus habitantes. Uma estreia poderosa, incômoda e relevante: um body horror de respeito que não fica muito atrás da crítica ácida de A Substância.
Onde assistir: disponível para aluguel

2. A HORA DO MAL
Dezessete crianças desaparecem simultaneamente após saírem correndo de casa no meio da madrugada, deixando apenas um aluno para trás e transformando a professora na principal suspeita. Zach Cregger constrói o terror sem recorrer a sustos fáceis, apostando na fragmentação da narrativa e em múltiplos pontos de vista para ampliar o mistério. Cada personagem carrega falhas, traumas e percepções que entram em choque. O filme funciona como uma grande alegoria sobre violência, medo coletivo e a incapacidade social de lidar com o inexplicável. A inquietação cresce a cada revelação – e também a cada silêncio. É denso, provocador e incômodo, daqueles que continuam ressoando muito depois do fim.
Onde assistir: HBO Max

1. PECADORES
Ryan Coogler assina sua obra mais ambiciosa: um híbrido de drama, musical e terror sobrenatural ambientado no Mississippi dos anos 1930. Michael B. Jordan vive dois irmãos que abrem um clube de blues marcado por racismo, resistência e encontros com o sobrenatural. A música, a fotografia e a atmosfera são irresistíveis, culminando em uma sequência já clássica em que passado, presente e futuro se misturam. Quando o horror entra em cena, a crítica social ganha ainda mais força. Um filme vibrante, ousado e emocional.
Onde assistir: HBO Max

E agora é sua vez.
Quais foram os seus filmes de terror favoritos do ano? Qual obra te surpreendeu, qual te assustou, qual ficou na cabeça dias depois? Deixe sua lista, discorde da minha, reorganize o ranking, acrescente o que faltou. O melhor do terror é justamente isso: sempre existe mais um olhar possível, mais uma interpretação, mais um susto esperando para ser descoberto.
