O Telefone Preto 2: os ecos de um novo pesadelo

NOTA: ★★★

Há filmes que voltam não porque precisam, mas porque o pesadelo ainda ecoa quando a luz acende. O Telefone Preto 2 é exatamente esse tipo de retorno: a chamada que você sabia que viria, mesmo torcendo para que o aparelho permanecesse mudo. E, para nossa sorte – ou desgraça -, o diretor Scott Derrickson atende de novo, trazendo consigo não apenas o fantasma do primeiro filme, mas também um baú inteiro de memórias do terror dos anos 1980.

Derrickson sempre gostou de caminhar nesse terreno em que o sobrenatural se mistura com o trauma cotidiano, e aqui ele reencontra o espaço que o consagrou em títulos como O Exorcismo de Emily Rose e A Entidade. Seu estilo, que combina horror visual com uma espiritualidade incômoda, conversa bem com o universo construído por Joe Hill, autor do conto que deu origem à franquia.

Hill, filho de Stephen King, carrega no DNA essa habilidade de transformar a infância em território de assombração. Mas não é necessário lembrar isso ao espectador: a história é que respira essa herança, com vozes que vêm do além e ruídos que insistem em atravessar as fronteiras entre os vivos e os mortos.

O filme retoma a vida de Finney e Gwen quatro anos depois dos eventos originais. Mason Thames, já em seu terceiro filme este ano, volta ao papel do garoto marcado pelo cativeiro, enquanto a ótima Madeleine McGraw oferece uma versão ampliada da Gwen que conhecemos, agora consumida por visões cada vez mais densas.

O assassino mascarado interpretado por Ethan Hawke retorna também, embora de outro lugar e outra lógica, surgindo nas frestas entre sonho e realidade para lembrar que certas presenças não se exorcizam tão facilmente. Quando os sonhos de Gwen começam a trazer imagens de um acampamento de verão à beira de um lago, povoado por três garotos já mortos, o filme abraça com gosto a estética dos slashers dos anos 80. Faltou apenas anunciar o nome Crystal Lake com letras garrafais.

Naturalmente, nossos jovens protagonistas – e mais o interesse romântico da irmã – decidem trabalhar no mesmo acampamento. E, claro, nada poderia dar errado. É nesse momento que Derrickson abandona o pudor e flerta descaradamente com A Hora do Pesadelo. O resultado é divertido na mesma medida em que é previsível. Hawke assume uma vibração kruegeriana, invadindo os sonhos de Gwen, distorcendo espaços e usando truques visuais que Wes Craven já havia levado à exaustão 40 anos atrás. Ainda funcionam? Sim, mas porque fazem parte de um imaginário que perdura, porque remetem a um medo primitivo de perder o controle do sono.

O problema é que Derrickson entrega cedo demais qual camada é sonho e qual é realidade. Falta o jogo de sombras que Craven dominava tão bem, aquele momento em que o espectador já não sabe se está acordado ou se foi puxado para dentro do pesadelo junto com o personagem. Em O Telefone Preto 2, esse risco não existe. O filme prefere a clareza, mesmo quando a história ganharia amplitude com um pouco mais de ambiguidade. Essa opção, somada a um roteiro que insiste em explicar o óbvio e que depende de coincidências entusiasmadas, acaba criando uma sensação de déjà vu: elegante, bem produzido, mas familiar demais.

Ainda assim, Derrickson sustenta uma atmosfera pesada e incômoda que funciona no cinema escuro – ou na sala de casa. O carisma sinistro de Hawke segura boa parte da tensão; a violência, mais direta do que no original, imprime marcas; e a trilha sonora sabe quando deve pulsar e quando deve se calar. O clímax combina tudo isso e acrescenta um toque quase heroico que não compromete, embora deixe um gostinho de que a franquia talvez esteja sendo moldada para caminhos cada vez menos sombrios.

No fim, O Telefone Preto 2 não reinventa nada, mas também não estraga o que herdou. É uma continuação que entende o próprio papel: ressuscitar sustos conhecidos, repetir fórmulas queridas e prestar homenagem a um passado que ainda assombra quem cresceu com Freddy surgindo atrás de cada porta.

Falta originalidade, sobra reverência. E talvez esse seja justamente o charme involuntário do filme. Ele toca o telefone de novo, sem surpresa, mas com aquela voz rouca do outro lado da linha dizendo: você achou que tinha terminado, não é?


SERVIÇO
O Telefone Preto 2
Direção: Scott Derrickson
Ano de produção: 2025
Elenco: Ethan Hawke, Mason Thames, Madeleine McGraw
Duração: 114 minutos


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