Guerra dos Mundos: o fundo do poço é só o começo

NOTA: ★☆☆☆☆

Quando você acha que já viu de tudo no streaming, sempre vem mais uma surpresa saindo da geladeira – e não é uma torta de limão, é esse  Guerra dos Mundos, que acabou de pousar (ou cair de paraquedas) no Prime Video.

Gravado em 2020 e esquecido por cinco longos anos, o filme finalmente foi lançado. A pergunta é: por quê? Sinceramente, se ele tivesse ficado mais dez anos hibernando, ninguém sentiria falta. Ninguém saberia. É o tipo de obra que já nasceu cansada, mas resolveram insistir.

A sinopse tenta vender a ideia de uma nova adaptação do clássico de H.G. Wells. Mas o que a gente recebe aqui é um Ice Cube claramente no modo piloto automático, interpretando um especialista em segurança cibernética (ou algo parecido) que passa o filme inteiro stalkeando todo mundo da própria família: a filha grávida, o filho, o namorado da filha, a gestação, a pré-natal, o chá revelação… enfim, tudo que aparecer pela webcam. Nitidamente uma pessoa com muito tempo ocioso.

E é isso: temos o Ice Cube o tempo todo dentro de uma tela de computador, reagindo a coisas que provavelmente foram colocadas anos depois na montagem. Dá para imaginar o diretor pedindo: “faz cara de espanto”, “agora finge que o mundo vai acabar”, “agora faz que está vendo um alienígena nu” – e depois alguém (provavelmente o sobrinho de 12 anos do diretor, com todo respeito às crianças dessa faixa etária) tentando juntar essas reações com cenas que não têm absolutamente nada a ver. É vergonha alheia no mais alto grau.

O filme tenta seguir a estética de outros longas ambientados em telas, como Searching ou Missing, só que sem tensão, sem criatividade e sem nenhum senso de direção. O que sobra? Efeitos visuais de gosto duvidoso, gente que não sabe a diferença entre o Zoom e o Teams, tripods que fazem as versões dos anos 1950 parecerem tecnologia de ponta e uma salada de temas que vão de hackers misteriosos a vírus canibais, passando por conspiração governamental, banco de dados e umas senhas de Wi-Fi ali no meio, porque sim.

E aí, como se tudo isso não fosse suficiente, vem o momento mais absurdo do filme: o protagonista precisa, desesperadamente, de um pendrive. Porque, como todos sabemos, a única forma de salvar o planeta de uma invasão alienígena é com 4GB de armazenamento portátil. E aí o namorado da filha solta, do nada: “Espera aí, você pode comprar um pendrive na Amazon, eles entregam por drone.”

Sim.

Você leu certo.

No meio da crise, no auge do caos, eles metem uma propaganda descarada do Prime Air. E lá vai o drone da Amazon desviar de raio alienígena no meio dos prédios para entregar o pendrive no prazo, com frete grátis e ainda 10% de cashback. É de um nível de constrangimento que dá vontade de levantar e bater palmas. Devagar.

No fim, tudo se resolve com a união da família: o pai que manja tudo de tecnologia, a filha bióloga, o filho que, do nada, é o melhor hacker do mundo, e o namorado, claro, funcionário da Amazon. E juntos eles salvam o mundo. Ou pelo menos tentam. Porque quem realmente precisava de salvação era você, que perdeu 90 minutos da sua vida assistindo isso.

Não dá nem para dizer que é ruim, mas é bom. Aqui é só ruim mesmo.


SERVIÇO

Título original: War of the Worlds

Direção: Rich Lee | 

Roteiro: Kenneth Golde, Marc Hyman

Elenco: Ice Cube, Eva Longoria, Michael O’Neill


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