NOTA: 4/5
O indicado pela Letônia ao Oscar 2025 é, sem dúvida, uma das animações mais belas do último ano. Embora minha torcida esteja com Robô Selvagem, é inegável que Flow ocupa um patamar artístico diferenciado. A narrativa se desenrola em um planeta tomado por águas crescentes, no qual a presença humana desapareceu por completo. Nesse cenário, um pequeno gato se une a outros animais em uma jornada de sobrevivência a bordo de um barco, enfrentando predadores e um ambiente hostil.
A atmosfera do filme é marcada por uma sensação de desolação. Diferente de outras histórias apocalípticas, que colocam humanos como protagonistas de sua própria destruição, Flow adota um olhar distante, quase contemplativo, sobre um mundo que continua existindo sem nós. A imensidão dos cenários, repletos de ruínas e resquícios de uma civilização esquecida, sugere histórias passadas que jamais serão completamente compreendidas pelo espectador, apenas intuídas pelos vestígios que a natureza insiste em engolir.

Assim como Robô Selvagem, Flow trabalha com temas de amizade e resiliência. Enquanto no filme da DreamWorks acompanhamos a robô Roz aprendendo a sobreviver e criar laços em meio a um ambiente inóspito, aqui temos um grupo de animais que, mesmo sem a linguagem verbal, desenvolvem uma relação de interdependência e companheirismo. Não é apenas uma história sobre resistir ao caos, mas também sobre encontrar conforto na presença do outro, mesmo que esse outro pertença a uma espécie diferente.
Outro destaque do filme é a incrível qualidade com que os animais são representados. Poucas vezes um gato foi tão bem desenhado e animado como o protagonista de Flow. Seus movimentos, olhares e expressões capturam de forma impressionante a essência felina, algo que pode passar despercebido para alguns, mas que é um dos grandes triunfos técnicos do filme. O realismo da animação, aliado à abordagem que evita a humanização exagerada dos personagens, torna a experiência ainda mais interessante.

Visualmente, Flow é uma verdadeira obra de arte. A direção de arte se inspira em paisagens oníricas e um minimalismo que lembra os jogos mais recentes da franquia Zelda, nos quais ruínas e construções abandonadas coexistem com uma natureza exuberante. O filme não se preocupa em explicar cada detalhe desse mundo, deixando espaço para a imaginação do espectador preencher as lacunas. Essa abordagem, aliada à trilha sonora etérea e uma fotografia que valoriza cada plano como uma pintura, torna Flow uma experiência sensorial fascinante.
Ainda assim, não tem como deixar de perceber uma abordagem um tanto fria no aspecto emocional – o que causa um distanciamento que não chega a ser incômodo, mas que não deixa o espectador se envolver de forma completa. De todo modo, Flow se destaca como uma das animações mais singulares do ano. Seu mergulho em um mundo sem humanos, sua sutileza na construção de laços entre os personagens e seu visual hipnotizante fazem dele uma forte presença na temporada de premiações. Independentemente do resultado do Oscar, Flow já garantiu seu lugar entre as animações mais memoráveis dos últimos tempos.
