NOTA: ★★★☆☆
Bailarina, dirigido por Len Wiseman (de Anjos da Noite e Duro de Matar 4.0), chega aos cinemas como um spin-off do aclamado universo de John Wick. Estrelado por Ana de Armas, o filme tenta expandir a mitologia criada por Chad Stahelski e por Keanu Reeves, mas acaba revelando a dificuldade em contar uma nova história sem se apoiar demais na obra original.
Lançada em 2014, John Wick não apenas resgatou a carreira de Keanu Reeves como também redefiniu o cinema de ação na última década. Com uma combinação de coreografias sofisticadas, longas sequências em plano aberto e um universo de assassinos repleto de códigos e tradições, os filmes criaram um padrão que passou a ser seguido e imitado por diversas outras produções. John Wick virou sinônimo de ação estilizada, com violência quase poética, e consolidou Chad Stahelski como um diretor criativo e habilidoso na arte de coreografar o caos.
Na trama atual, Ana de Armas vive Eve, uma jovem que, na infância, presenciou o assassinato brutal de seu pai por uma organização criminosa. Adotada por outra organização criminosa, ela passa anos sendo treinada em uma espécie de escola na qual balé, artes marciais e armamentos se misturam – um conceito que já vimos em outras produções do gênero e que aqui soa pouco inovador. A ideia da academia de assassinos parece reciclada de filmes como Atômica e até mesmo da própria franquia John Wick, tornando o primeiro ato previsível e carente de novidades.

O grande trunfo de Bailarina poderia estar na presença magnética de Ana de Armas, que já havia demonstrado talento para a ação em 007 – Sem Tempo para Morrer e em Agente Oculto. A atriz entrega uma performance física intensa e convincente, mas se vê presa a um roteiro fragmentado, repleto de arcos que surgem e desaparecem sem deixar impacto – como a descoberta absurda de uma irmã até então desconhecida e cujo conflito duro exatos três minutos e a presença de uma garotinha a ser resgatada que pouco ou nada acrescenta ao enredo – uma tentativa pífia de conexão emocional a partir do mesmo trauma entre dois personagens.
As cenas de ação até têm seus momentos de brilho: um duelo com lança-chamas coreografado como um verdadeiro balé e uma luta em que pratos são quebrados de forma quase cômica e criativa. No entanto, a montagem muitas vezes confusa impede que o público assimile plenamente as sequências, algo que a série John Wick sempre executou com maestria. E esse talvez seja o maior problema de Bailarina: o filme parece não confiar na própria história e se apoia, quase desesperadamente, no universo de origem. Vale mencionar que o filme passou por extensas refilmagens, comandadas pelo próprio Stahelski, em uma tentativa de polir as cenas de ação e trazer mais do espírito da franquia original para o projeto – mas cujo resultado é justamente essa irregularidade narrativa.
E, claro, os produtores não resistem: John Wick (Keanu Reeves) surge no terceiro ato, numa tentativa quase desesperada de vincular ainda mais o filme ao universo da franquia e garantir a atenção do público fiel. A aparição do personagem parece menos uma decisão criativa e mais uma estratégia calculada para agradar o fã-clube e reforçar o laço emocional com os espectadores que acompanham a saga desde o início. O problema é que essa participação especial, em vez de fortalecer a trama, soa como um artifício vazio, incapaz de acrescentar qualquer peso dramático ou reviravolta relevante à trama.

O filme já vinha demonstrando dificuldade em se sustentar por mérito próprio, e a entrada de John Wick apenas escancara a falta de confiança dos produtores na história de Eve. No lugar de construir uma identidade sólida para a protagonista, opta-se por recorrer à figura consagrada do Baba Yaga como muleta narrativa, o que, no fim, enfraquece ainda mais a tentativa de se criar um novo capítulo no universo da franquia.
No fim, sejamos sinceros, Bailarina é um passatempo competente. As cenas de ação garantem entretenimento e o ritmo do filme, mesmo com seus problemas e as fragilidades do roteiro, consegue manter o espectador engajado. Mas falta personalidade própria: é uma obra que vive na sombra de John Wick, sem coragem de ousar ou se desvencilhar do que já foi feito antes. Caso venha uma continuação – o que é provável -, o maior desafio será justamente esse: entregar um filme que seja realmente de sua protagonista, e não apenas mais um produto que tenta lucrar com o legado de seu herói mítico.
- Bailarina (2025)
- Direção: Len Wiseman |
- Roteiro Shay Hatten
- Elenco: Ana de Armas, Ian McShane, Anjelica Huston
- Título original Ballerina
