Um boteco com arquivo, revistas antigas e muita tradição. Na Visconde de Nácar, artéria importante da região central de Curitiba, um imóvel com mais de 70 anos valoriza o passado aliando cultura e história. A Revistaria Visconde, é um dos lugares em que a capital parou, ficou, e não vai avançar na modernidade com cardápios com QR Code ou blocos de compra antecipada.
A Revistaria Visconde é administrada pelos irmãos Arlei e Maurílio há 39 anos. A dupla nascida na verdejante Assis Chateaubriand, cidade da região oeste do Paraná, revezam no atendimento dos horários sem perder o jeito raiz de atender a ávida clientela por cerveja gelada e uma cachacinha. Maurílio é o que abre o boteco, e foi ele que deu início das atividades em 1986.
Na época, já existia na Rua Visconde de Nácar, 488, um comércio que vendia revistas, gibis e jornais com o nome Revistaria Visconde I. Uma parede separava uma mercearia que comercializava centenas de itens, uma espécie de Secos&Molhados. No começo da década de 1990, a revistaria iniciou a venda de bebidas.
“O Maurilio, trabalhou em banco, e depois assumiu essa parte do imóvel. Não temos o ano exato de quando ela foi fundada, e seguimos no ramo. Eu entrei no negócio em 1992, e fomos adequando aos poucos a necessidade da região com a queda na venda de itens de leitura. Com o tempo e a tecnologia, as revistas foram ficando para trás, e fizemos a transição somente para boteco comprando também a parte da antiga mercearia após a morte do proprietário”, recordou Arlei.





Arquivo devedor e revistas históricas
Ao entrar e pisar pelo piso original formado por mosaicos já desgastados em uma das duas entradas da Revistaria Visconde, o cliente vai se surpreender com o tamanho da casa. São dois grandes corredores que terminam em duas salas com sinuca. Em um dos espaços desportivos, fotos e imagens antigas da turma da pescaria, que ali frequentavam contando boas histórias regadas a cerveja e doses quentes.
No balcão em L, estufa com três compartimentos com especialidades da casa, tendo o trio cachorro-quente, linguiça e pastel. Próximo da área gastronômica, aparecem um grande vidro de cebola e o arquivo confidencial da Revistaria Visconde. Ali estão expostos os nomes ou apelidos daqueles que pediram para pagar depois. Infelizmente para o Arlei e o Maurílio, alguns dos clientes morreram ou não retornaram fisicamente.
“Ainda funciona, já perdemos muito. Alguns morrem, mas existem casos de familiares aparecerem para pagarem a dívida do cliente falecido”, disse Arlei, que faz o horário das 15 horas até o fechamento do bar.
A parte cultural da Revistaria Visconde segue ativa, mas somente com artigos antigos. O bacana que a prateleira de madeira coloca o leitor em décadas passadas com revistas históricas contando sobre a chegada do real, apostila para concurso da Caixa Econômica Federal, exemplares de carros que eram novidades, fofocas do reino inglês e livros religiosos podem ser comprados por preços simbólicos ou mesmo doados.
“Só temos revistas antigas para relembrar os tempos, é um pouco de saudosismo. Chega gente que fica interessada, mas não quero desfazer. Quando vendo, é por preço simbólico, e precisa pedir muitas vezes”, brincou Arlei.





“Estar aqui é igual respirar”
Há 33 anos indo todos os dias ao bar, os irmãos chateaubriandenses descartam um dia mudarem o jeito da Revistaria Visconde para um estilo mais moderno. “Nós queremos manter o estilo, fiz minha vida aqui, criei meus filhos com esse jeito simples e verdadeiro. Não vai ter mudança, os clientes aprovam e acham o bar aconchegante”, valorizou Arlei, pai do Fábio Augusto e da Isabela.
Um bar único, um templo botequeiro curitibano. A Revistaria Visconde não é somente um comércio, é um patrimônio histórico no coração da capital. “É um costume, uma rotina. É como andar e respirar, não pensamos em fechar, queremos atender a clientela sempre da mesma forma”, completou Arlei, o maestro do gole, fama de melhor servir um Velho Barreiro na cidade, sem derramar uma lágrima no antigo e desejado balcão da Visconde I.


Revistaria Visconde
Endereço: Rua Visconde de Nácar, 488 – Centro, Curitiba.
Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira das 8h às 23 horas
Sábado e domingo: das 9h às 20h, sendo que no domingo tem ponta de costela assada na hora do almoço.
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