Tem bares que a gente frequenta e tem botecos que a gente leva para a vida. O Basset Lanches, no bairro Juvevê, é desses que faz a memória ativar com felicidade. Inaugurado em 1994, bem ali na frente do Museu Oscar Niemeyer (MON), um dos cartões-postais mais famosos do país, o Basset segue sendo ponto de referência, local de encontro e, principalmente, cenário afetivo de Curitiba.
Quem passa ali entre o fim da tarde e o comecinho da noite na Rua Marechal Hermes entende rápido o motivo. O sol “desce” atrás do MON como se tivesse sido contratado pelo bar, um pôr do sol encantador que faz turistas e curitibanos celebrarem o dia com um belo copo de chope gelado na varanda do Basset.
Hoje quem comanda a casa é João Luiz Lavalle Raposo, 28 anos, segunda geração à frente do balcão. Mas a história começa muito antes dele nascer, com o avô português, o João Francisco de Souza Raposo, que saiu do Arquipélago dos Açores, passou por São Paulo e fincou raiz em Curitiba.
O português montou primeiro uma banquinha de revista na Manoel Eufrásio, rua da esquina do Basset. Dessa veia empreendedora vieram na sequência a Cantina Açores e o Barolho, pontos conhecidos da região. Em 1994, ano do tetra do Brasil no futebol, o português passou o bastão para o filho João Francisco ( Kiko) e as filhas Karina e Cássia. Nasce ali, oficialmente, o Basset Lanches, tendo na linha de frente o Kiko e a esposa Gisele.
“Eu sempre falo que cresci atazanando a galera aqui dentro”, brincou João Luiz. A foto no colo da mãe atrás do balcão, está lá pra provar”, brincou o atual proprietário.





Não foi o meu bar que construíram na frente do museu. Foi o museu que construíram na frente do meu bar.”
O tempo passou, a cidade mudou, são 31 anos de vida, e o Basset continua ali, firme. Em 2002, o cenário em frente ao bar mudou de vez com a conclusão das obras do Museu Oscar Niemeyer. O que já era um ponto querido do bairro ganhou um vizinho de peso, um dos maiores cartões-postais do Brasil. “Não foi o meu bar que construíram na frente do museu. Foi o museu que construíram na frente do meu bar”, valoriza João.
Brincadeiras à parte, a chegada do MON transformou o fluxo da região e trouxe turistas e mais curitibanos ao local. Muita gente faz o roteiro clássico: visita o museu, atravessa a rua, senta na varanda do Basset e pede uma cerveja bem gelada para assistir o espetáculo do fim de tarde.
“Eu já me acostumei, né? Trabalho aqui todo dia. Mas vejo muito pela reação dos turistas. Eles sentam, pegam o copo e ficam admirando. Sempre me perguntam como consigo trabalhar todo dia com essa visão”, contou o jovem proprietário.
Com o museu na frente, o mercado imobiliário chegou a bater na porta do bar com propostas sedutoras. “Da minha gerência de dez anos, já tiveram duas propostas muito grandes. Tentadoras mesmo, mas eu agradeço, e não avanço na conversa. O Basset Lanches não tem valor. É patrimônio histórico. É o bar dos meus pais. Eles pagaram minha escola, minha faculdade, minha vida inteira com dinheiro de cerveja e x-salada. Dinheiro é importante, mas isso aqui vai muito além disso. Eu nunca vou vender esse bar””, admitiu João.





Cardápio clássico com o “bife azedo”
Se tem uma coisa que João aprendeu cedo é que mexer no cardápio do Basset é território perigoso. Por isso, os clássicos de boteco continuam firmes, tendo o campeão de vendas o famoso bife azedo, receita da avó Regina. A receita leva iscas de carne bovina, fritas com cebola e temperos, acompanhadas por pão. É azedinha proveniente de um molho de limão e ervas. Algo bacana do Basset é a presença do chapeiro Ezequiel, que está lá há mais de 30 anos. “Se eu mudar o cardápio, acho que sou crucificado e até deserdado pelos meus pais. Coração crocante, provolone à milenesa, bolinho de siri, aipim com bacon, carne de onça, sanduíches clássicos”, valorizou João que ainda tem no time, a Nilza, Kevin e Paulo.
E sabia que o nome também carrega história. Quando a família assumiu o ponto, o lugar já se chamava Basset. E como todo mundo ali sempre foi apaixonado por “salsichinhas”, a Gisele teve a ideia de manter o nome e transformar a marca num tributo ao primeiro cachorro da família, o Billy. O simpático cãozinho caramelo de orelhas compridas virou a logomarca que hoje todo mundo reconhece. Depois veio a Bunny, o segundo cachorro da família, retratado em uma das paredes.
“Eu não seria quem eu sou sem o Basset. E o Basset não seria o que é sem a nossa família. É tudo junto”, completou João Luiz Lavalle Raposo.




Basset Lanches
Endereço: Rua Marechal Hermes, 1024 – Juvevê, Curitiba.
Horário de funcionamento: todos os dias das 15h às 00h.
Instagram: bassetlanches
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