No coração de Curitiba, a batida é mais acelerada. No Largo da Ordem, bairro São Francisco, reduto democrático da capital, um imóvel abriga uma das histórias mais afetivas e vibrantes da cena cultural da cidade. O Bar Brasileirinho, fundado em 1997 por Seu Cícero, o espaço sempre foi um reduto do samba, chorinho, um verdadeiro ponto de encontro de artistas, compositores e apaixonados pela etnia popular.
Há sete meses, sob nova gestão, o bar vive uma nova fase, sem perder sua essência. E a história dessa transição tem tudo a ver com duas pessoas que carregam o samba na alma: Rafael García de Paula e Francielli Bispo Bertagnolli de Paula.
Rafael e Franciele nasceram em Figueira, pequena cidade da região norte do Paraná com pouco mais de oito mil habitantes. Eles se conhecem há 26 anos, desde a adolescência, e compartilham um olhar apaixonado pela cultura, pela educação e pela vida construída em comum.
Ele é médico, professor universitário e especialista em Medicina Legal e do Trabalho. Ela é formada em Direito e atualmente atua como servidora pública. Juntos, construíram uma vida em Curitiba, e também a Clara, filha do casal, cujo nome é uma homenagem a Clara Nunes, um dos maiores símbolos da música brasileira.
O casal costuma brincar que “casou por causa do Carnaval”. E não é força de expressão. Em 2019, Rafael havia sido aprovado em um concurso público e precisava assumir o cargo exatamente no período do desfile de um ano considerado especial, já que acompanhava de perto a disputa do samba-enredo da Mangueira.
A solução veio com a descoberta da licença-gala, direito que garante oito dias de folga após o casamento. Viagem ao Rio de Janeiro garantida, e para completar o enredo, a Mangueira campeã naquele ano. “Foi um dos motivos que a gente casou”, brinca o casal, rindo.





O desejo antigo de criar um espaço cultural
A ideia de ter um bar, porém, não nasceu do nada. Há anos Rafael e Franciele sonhavam em abrir um espaço cultural, dedicado à música, dança e manifestações brasileiras. Em 2023, após experiências com outro estabelecimento e muitas conversas, o casal decidiu que era hora de ter um lugar próprio. O que eles não esperavam é que esse lugar já existia, e viria ao encontro deles.
O Brasileirinho, fundado por Seu Cícero com o nome inspirado no coral infantil “Brasileirinho” do Conservatório de Curitiba, chegou aos novos donos por amigos. No dia seguinte, ele já estava tomando um chope com o dono e iniciando a conversa. O carinho pela casa, a história e a vontade de manter o nome foi decisiva. “Só muda o nome se o senhor me obrigar”, relembrou Rafael. O brilho no olho do antigo proprietário confirmou que aquele era o caminho certo.








Comer rezando o bolinho à parmegiana
O Brasileirinho é daqueles lugares que a gente entra e já começa a viajar pelo Brasil sem sair da mesa. A decoração é um verdadeiro mosaico cultural com Copacabana, tem Bumba Meu Boi, fitinhas do Senhor do Bonfim espalhando fé e cor, fantasia da Escola de Samba Realeza, usada pelo Rafael, e quadros que homenageiam gigantes do samba como Nelson Sargento e Maé da Cuíca, um dos maiores ícones do carnaval curitibano e fundador da escola Colorado. Tudo isso em um ambiente colorido, vibrante, cheio de boas energias, com aquele clima de boteco que ainda conta com espaço kids, pra ninguém fique de fora da festa
No cardápio, o Brasileirinho faz jus ao nome tendo uma seleção botequeira sanduíches caprichados, petiscos de respeito e pratos que pedem uma cerveja gelada sem pensar duas vezes. Destaque absoluto para o bolinho de carne à parmegiana, daqueles que surpreendem com a quantidade de queijo derretido. Sem esquecer do torresmo de rolo, crocante por fora, suculento por dentro e com potencial real de virar motivo pra voltar. É boteco com identidade, sabor e alma brasileira.
Outro destaque interessante no Brasileirinho é a forma que os funcionários são identificados. A relação com uma escola de samba é identificada nas camisetas. A equipe de atendimento (garçonetes e garçons) fazem parte da Harmonia (Vanessa e Carol são as diretoras); a comissão de frente é quem recepciona os clientes (Ana), o mestre de bateria é quem domina o coração do bar, ou seja, a cozinha. O responsável pelas delícias e criações é o Renner Ribeiro; a carnavalesca responsável pela organização e marketing é a Bárbara. Já os donos, não poderia ser diferente, são os diretores de Carnaval. Dez, nota dez!, bordão mais icônico criado por Carlos Imperial ao anunciar as notas na apuração carioca.



Brasileirinho Bar
Endereço: Rua Mateus Leme, 67 – São Francisco, Curitiba.
Horário de Funcionamento: 9h às 00h00 de terça a domingo com música brasileira gratuita no período noturno. Nas segundas, funciona na hora do almoço.
Instagram: barbrasileirinhooficial
Quer sugerir um bar?
Envie sua sugestão para o Instagram do Caçador de Boteco. Siga lá!
