“12 Anos de escravidão” e a literatura abolicionista

Solomon Northup (1808 – 1863) voltou à tona com o longa 12 Anos de escravidão (2014), de Steve McQueen, concorrendo ao Oscar de Melhor Filme. A história, já contada por Gordon Parks, 1984, em Solomon Northup’s odyssey, é real e inspirada no livro homônimo ao filme de McQueen, lançado em 1853, mas que só chega ao Brasil este ano, sob a publicação da Penguin-Companhia.

A dolorosa história de Northup, negro que nasceu livre em Nova York, no Estados Unidos, mas acabou sendo sequestrado e passou 12 anos trabalhando como escravo em uma fazenda de algodão na Lousiana, levanta o debate sobre a presença do negro e da escravidão na literatura.

O assunto é tratado até hoje com certas ressalvas e muito cuidado, afinal o Brasil escravocrata é uma ferida aberta na história do país. Já tratamos do assunto no Dia da Consciência Negra, porém, esse é um tema que precisa sempre ser relembrado.

A História continua…

Há um grande contraponto: de um lado temos A Escrava Isaura (1875), obra de Bernardo Guimarães (1825 – 1884), e na outra mão, o poema O Navio negreiro (1869), de Castro Alves (1847 – 1871). Enquanto o livro de Guimarães usa a figura de uma mulher branca para expor o exemplo da escravidão no Brasil, os versos de Castro Alves não se poupam do sofrimento dos negros para retratar o desejo abolicionista que pairava sobre alguns intelectuais brasileiros.

No entanto, o maior escrito brasileiro sobre a relação do Brasil com a escravidão é O Que é abolicionismo?, uma das seis parte da obra máxima de Joaquim Nabuco (1849 – 1910), Minha formação (1900).

Defensor ferrenho do fim do regime escravocrata, Nabuco usou de todo o seu prestígio para elevar o assunto ao tópico principal da nação. Colocando lado a lado questões polêmicas, como a Lei Eusébio de Queirós (1850) e a política econômica acerca da escravidão que ainda regia o sistema brasileiro, o intelectual não usou apenas a questão legal – promulgação da Lei Áurea (1888) – para lutar para que os negros não tivessem que voltar às senzalas.

Por mais que a Princesa Izabel já houvesse assinado a contrariedade do país contra a escravidão, alguns setores da sociedade ainda defendiam o regresso do regime bárbaro e ignorante que perdurou de 1530 até 1888. Por isso, a importância do texto de Nabuco e a necessidade de relê-lo como fonte de história e também para que ela não se repita – de forma direta ou indireta.

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